As baixas taxas de juros oferecidas no empréstimo consignado fizeram com que esta modalidade de crédito se popularizasse entre os aposentados e pensionistas de Bauru. Tanto que o volume de contratos assinados já superou o total de beneficiários da cidade.
No crédito consignado, o valor devido é descontado diretamente do benefício e, por representar risco “zero” de inadimplência, os juros cobrados pelos bancos costumam ser baixos – em média, de 2,5% ao mês, contra os 5% a 6% exigidos para empréstimo pessoal. Diante da “tentação”, em janeiro o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) registrou um fenômeno: contabilizou 50.939 aposentados e pensionistas no município e 52.617 contratos de crédito consignado registrados. Na região da gerência do instituto, abrangida por 58 municípios, esta proporção ainda não foi alcançada. São 201.365 aposentados e pensionistas e 199.355 contratos de empréstimo consignado em vigência.
Embora seja uma saída para enfrentar imprevistos ou escapar dos altíssimos juros de cartão de crédito e cheque especial, o INSS e o Sindicato dos Aposentados orientam cautela antes de fazer uso deste tipo de financiamento.
De acordo com Donato Rodrigues, diretor do Sindicato Nacional dos Aposentados, as pequenas taxas cobradas não devem ser utilizadas como pretexto para contrair dívidas indiscriminadamente.
“O ideal é que o empréstimo seja usado somente em casos excepcionais, quando o aposentado ou pensionista realmente precisa”, alerta. Devido às taxas baixas, ta“Se a pessoa já está endividada – e isso é comum nesta época do ano -, uma solução é trocar a dívida onde incidem juros maiores por outra que cobra juros menores. No final, o valor pago será bem inferior”, observa.
Controle
A aposentada Magali Sperandini, 67 anos, segue outra linha. “Nunca fiz financiamento e, no que depender de mim, nunca vou fazer. Não é que tenho dinheiro sobrando, mas sou muito controlada nos meus gastos, então não preciso me endividar”.
E controle não precisa ser, necessariamente, sinônimo de privação. Magali vive apenas com o valor de sua aposentadoria e, além de pagar todas as suas contas, ainda consegue poupar para investir em lazer.
“Guardo dinheiro para viajar. Não deixo de fazer nada do que gosto, mas não vou perder dinheiro com empréstimo. Os juros, por mais que sejam baixos, é dinheiro que a gente joga fora”.
Informações pelo telefone 135 ou pelo site www.previdencia.gov.br.
O que é
O empréstimo consignado é descontado automaticamente na data de pagamento do benefício de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). O financiamento só pode ser realizado por empresas financeiras que firmam convênio com a Previdência Social. Pelas regras da parceria, o financiamento pode ser feito em até 60 parcelas, sendo que cada uma delas não pode exceder a 30% da renda mensal do beneficiário.
‘Fiz e tive que guardar na poupança’
O aposentado João Pereira, 71 anos, já perdeu as contas de quantas vezes fez empréstimo consignado e, na última delas, o dinheiro do financiamento - com taxas médias de juro de 2,5% - acabou sendo destinado à poupança, que não rende mais do que 0,7% ao mês. “Tinha feito o empréstimo para trocar de carro, mas desisti no meio do caminho. Como já tinha assinado o contrato, guardei o dinheiro. Mas já usei uma parte para pagar uma viagem que farei agora, no Carnaval”, comenta.
Os dias de folia serão comemorados em Ilha Comprida, no litoral paulista. No ano passado, outro financiamento também teve o lazer como finalidade. “Quis fazer um cruzeiro marítimo e peguei dinheiro no banco para pagar à vista. A prazo, ficaria mais caro para mim”, pondera.
Pereira diz que nunca deixou de honrar suas dívidas. “Cerca de R$ 750,00 (30% da renda dele, limite máximo permitido pelo INSS) são para pagar os empréstimos. “Meus filhos estão todos criados e, felizmente, tenho uma saúde ótima e não gasto nada com remédios. Quero aproveitar a vida porque dela nada se leva”, conclui.
Cuidado com ‘oportunistas’
O Sindicato Nacional dos Aposentados orienta os aposentados e pensionistas a ficarem alertas para evitar a ação de oportunistas – em sua maioria, familiares ou pessoas próximas – que, agindo de má-fé, podem contratar o crédito consignado sem o conhecimento do beneficiário. Segundo o diretor Donato Rodrigues, são inúmeras as reclamações de beneficiários que têm valores descontados na aposentadoria sem sequer saber que fizeram o empréstimo.
“Devido aos juros baixos, muitas pessoas querem tirar proveito deste tipo de financiamento e, por terem a confiança do parente aposentado, podem enganá-lo e convencê-lo a assinar o contrato sem saber seu significado e implicações. Depois da assinatura, dificilmente o beneficiário vai conseguir cancelar este empréstimo”, destaca.
Como é necessária a apresentação de RG ou Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e CPF do beneficiário na instituição financeira, a recomendação é que o aposentado não entregue documentos pessoais ou cartão magnético da aposentadoria a terceiros e não assine nenhum documento ser lê-lo atentamente.
Fonte JCNEt