“Ilhados em um mar de comunicação”. É assim que os moradores de Iacanga (50 quilômetros de Bauru) vêm se sentindo em razão das frequentes panes nos serviços de telefonia fixa e móvel e de Internet. Com os “apagões”, que se tornaram praticamente diários, a população não consegue pagar boletos ou fazer compras com cartões e proprietários de comércios e indústrias não têm como emitir notas fiscais eletrônicas e liberar pedidos. O resultado: muita dor de cabeça e prejuízos.
Em setembro do ano passado, o JC publicou matéria sobre constantes interrupções no serviço de telefonia em Iacanga e mostrou drama enfrentado por moradores e comerciantes que trabalham com disque-entrega, que não conseguiam receber os pedidos. Na ocasião, a Telefônica Vivo atribuiu o problema à queda de energia elétrica, com dano em equipamento da empresa, e ao rompimento acidental de cabos ópticos. De lá para cá, segundo a população, a situação só piorou.
Carlos Alberto Pavon, dono de uma indústria de doces instalada no Distrito Industrial da cidade, revela que, quase todo dia, enfrenta problemas de comunicação. “Isso vem acontecendo com uma frequência bem grande. Toda semana, quase que todos os dias, acontece de ficar sem Internet, sem fixo e sem o celular móvel da Vivo”, diz. “A gente não consegue nem fazer e nem receber ligações. Parece que eles desligam uma chave e Iacanga fica ilhada, sem sinal nenhum”.
No caso dele e de outros proprietários de fábricas, as panes resultam em atrasos na entrega dos produtos, reclamações de clientes e prejuízos. “A gente fica parado e sem poder liberar os caminhões para viagem quando acontece isso porque não dá para emitir a nota fiscal eletrônica, transmitir para os revendedores e clientes e receber pedidos via e-mail também”, explica. “Se você tiver que fazer algum pagamento e ficar sem sinal, tem que correr até uma cidade vizinha para fazer”.
De acordo com Pavon, no último sábado, o serviço ficou interrompido durante toda manhã e parte da tarde. Na segunda-feira, os telefones e a Internet não funcionaram do meio-dia até as 18h. “Eu vou ter um prejuízo com as panes de ontem e de sábado de mais de R$ 5 mil porque vou ter que pagar hora extra para motorista, diária de motorista e hora extra de funcionário que teve que ir lá no domingo para poder emitir as notas fiscais porque no sábado não deu”, conta.
Ele alega que já entrou várias vezes em contato com a Telefônica Vivo para reclamar dos constantes apagões, mas, até o momento, o problema não foi solucionado. “Uma vez eles falam que é manutenção da rede, outras vezes alegam que foi uma máquina que cortou o cano na rodovia. E, enquanto isso, todos os empresários aqui do Distrito Industrial e todos os comerciantes da cidade vão amargando prejuízos”, desabafa.
Prejuízos
O comerciante José Aparecido Dariva, dono de uma farmácia em Iacanga, alega que não conseguiu concluir as vendas na segunda-feira por causa da interrupção no serviço de Internet. “Imagine você ficar sem telefone e sem Internet quase que um dia inteiro?”, questiona. “Eu tenho o programa Farmácia Popular do governo federal. Dependo 100% da Internet para autorizar a venda”.
Para não prejudicar clientes que dependem de medicamentos de uso contínuo, ele revela que entregou o produto e deixou para preencher o formulário posteriormente. “A gente acaba entregando e não faz a venda. O prejuízo nosso acaba sendo maior ainda. Como a pessoa vai ficar sem o remédio?”, indaga.
Dariva, que também é diretor da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) da cidade, diz que quase viajou para Bauru para pagar boletos bancários que venceriam anteontem. “Eu tinha R$ 20 mil em boletos para pagar. Eu ia ter que ir para Bauru tentar pagar nos terminais do Banco do Brasil ou da Caixa”, conta.
“Se (a Internet) não tivesse voltado ontem (anteontem), eu teria o prejuízo de pagar multa e pagar juros do boleto. Mas o prejuízo maior é o tempo que a gente perde, a parte psicológica, porque você fica desgastado”.
Reclamações
De acordo com a presidente do CDL de Iacanga, Paula Rosana Modolin Crepaldi, diariamente, a entidade recebe diversas reclamações de empresários e comerciantes sobre interrupção nos serviços de telefonia e Internet. “Está muito frequente”, diz. “As indústrias se queixam por causa das notas. Eles não conseguem liberar o material para poder entrar no caminhão. E, no caso do comércio, não é libertado o cartão, você não consegue fazer uma venda. O prejuízo é muito grande”.
Ela explica que, em alguns estabelecimentos, a situação pode ser contornada com devolução do produto à prateleira. Em outros, como aqueles do ramo alimentício, o comerciante fica no prejuízo quando a máquina de cartão não funciona. “O que os donos de restaurante vão fazer se a pessoa já comeu?”, questiona.
Telefônica diz em nota que vai ressarcir cliente
Em nota, a Telefônica Vivo informou que os clientes prejudicados pelas interrupções nos serviços de telefonia e Internet receberão ressarcimento em conta futura do período em que a linha apresentou problemas.
Segundo a operadora, em janeiro, em razão das obras de terceiros em execução na rodovia Cezário José de Castilho (SP-321), em Iacanga, houve três rompimentos de cabos da empresa.
“Neste mesmo mês, a rede da cidade apresentou problemas também em decorrência de furtos de cabos. Nesses quatro incidentes, as interrupções dos serviços duraram entre 22 minutos e cinco horas”, alega.
“A empresa está acompanhando as obras para fazer os remanejamentos necessários de cabos metálicos e óticos. Equipes técnicas trabalham ininterruptamente para estabilização da situação e para evitar novos problemas”.
Eventuais reclamações de usuários da Telefônica Vivo sobre problemas nas redes de telefonia e Internet podem ser feitas na Central de Atendimento 103 15, que funciona 24 horas. Jcnet