A atual safra de cana-de-açúcar teve o pior desempenho desde 2000/01, fato que traz perda de competitividade para abastecer os milhares de veículos flex do país.
Resultado direto da falta de investimentos em novas usinas, da ausência de renovação de lavouras e dos efeitos climáticos, o cenário não deve melhorar nos próximos anos, diz o próprio setor.
Ao moer 488,46 milhões de toneladas de cana até o dia 1º de dezembro no centro-sul do país, o setor sucroalcooleiro registra queda de 12,26% em relação à safra passada -ou 68,28 milhões de toneladas a menos do que 2010, segundo a Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar).
Ao mesmo tempo, a frota flex cresceu em proporção inversa. Desde 2005 foram vendidos 14,6 milhões de veículos bicombustíveis, de acordo com a Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores).
Os problemas financeiros e agrícolas não foram os únicos responsáveis, segundo a Unica, pela inédita quebra nos últimos anos.
Sérgio Prado, representante da Unica na região de Ribeirão -a mais tradicional produtora do país-, disse que a seca da safra passada e as geadas de 2011 geraram um terço das perdas totais, avaliadas em R$ 10 bilhões.
"O canavial está velho, maltratado e 2011 foi o ano de mais interferência climática numa safra", disse Guilherme Nastari, diretor da Datagro Consultoria.
FUTURO INCERTO
Para sair do limbo, o setor precisaria investir pelo menos R$ 38,6 bilhões até 2015, de acordo com projeção feita a pedido da Folha pelo IEA (Instituto de Economia Agrícola), ligado à Secretaria de Estado da Agricultura.
Segundo o IEA, seriam necessárias 113 novas usinas e 4,26 milhões de novos hectares plantados ao custo de
R$ 27,6 bilhões. Mas a própria Unica estima que, no máximo, cinco novas unidades devem entrar em operação na próxima safra.
Para complicar o cenário, os pesquisadores do IEA Sérgio Torquato e Rejane Ramos dizem que a produção nas proporções analisadas só atenderá a demanda se houver rendimento de 82 toneladas de cana colhidas por hectare e destinação de 55% da matéria-prima para etanol.
Mas, em 2011, 50% da cana foi destinada à produção de álcool, com rendimento de 68,2 t/ha, segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).
"Deixaremos de vender num mercado que existe, por causa da crise de oferta de produto", disse Prado.
De modo emergencial, as usinas devem priorizar ainda mais a produção de açúcar, que está remunerando melhor no mercado externo, e deixar de fazer o etanol hidratado (usado nos carros flex) até o setor se reestruturar, disse José Rezende, líder de agrobusiness da PwC.
Além disso, outra maneira de as usinas se capitalizarem é buscando recursos na Bolsa de Valores.
Para isso, as empresas precisam melhorar a sua gestão -como cortar gastos, planejar a expansão e os riscos-, além de investir em sustentabilidade para agregar valor no mercado internacional, de acordo com Rezende. "Dessa forma, haverá a entrada de capital externo."
Fonte: Folha de São Paulo