O sedã preto desfilou silencioso pelo trânsito paulistano. Parado em um semáforo, um motoboy chegou a levantar a viseira para ver melhor o interior. Logo chegou outro. A dupla conversou por alguns segundos, sem tirar os olhos do carro.
O BMW 750i repousava na garagem, coberto pelo pó de São Paulo. O carro passou três dias à espera de um motorista, mas manteve a fleuma. Convidado para um passeio, fez soar o ronco abafado de seu V8 biturbo (407 cv).
O corpanzil de cinco metros e quase duas toneladas intimida. O preço também: R$ 475 mil. O Série 7 tem o tamanho dos sonhos de milionários do petróleo.
O isolamento acústico não permitiu ouvir o diálogo, mas provavelmente teciam comentários sobre a forração de couro creme dos bancos e os detalhes em madeira do painel.
Teriam ainda mais assunto se vissem o que o carro fez na pista, no teste Folha-Mauá. Bastaram 5,7s para alcançar os 100km/h.
Ser rápido não é tudo. A maior vocação do Série 7 é mimar motorista e passageiros com massageadores nos bancos e portas que se fecham por sucção. Basta encostá-las no batente que o sistema se encarrega do travamento.
Sedãs como o 750i e seus pares (Audi A8, Mercedes Classe S e Jaguar XJ, por exemplo) são vitrines. Tudo o que há de melhor em suas fábricas é colocado a bordo, e aí cabem alguns exageros. Um deles é a complexidade dos comandos.
São tantos botões e luzes no console central que é preciso dedicar tempo à leitura do manual, espesso como a Bíblia. Para compensar, a alavanca de marchas é frugal. Aperte o botão na manopla e escolha ir para frente ou para trás. Um toque para a direita e o modo Sport entra em ação.
Abre-se a porta e o barulho do mundo real volta a ser ouvido. No dia seguinte, após um banho, o 750i foi fotografado e devolvido à BMW. O registro de seu teste está nesta página, e na memória de dois motoboys paulistanos.
Fonte: Folha de São Paulo