A Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBr) questionou ontem, junto ao Food and Drug Administration (FDA) — órgão regulador dos alimentos dos Estados Unidos —, a detenção de três carregamentos de suco de laranja brasileiro, na última sexta-feira. As empresas com lotes retidos têm dez dias para apresentar defesa e decidir o destino das cargas.
Em nota à Tribuna Impressa, a CitrusBr informou que acredita em uma solução negociada e que, para isso, acionou o governo norte-americano. A associação estima que um embargo definitivo do suco brasileiro resultará em um prejuízo de aproximadamente US$ 100 bilhões (R$ 174 bilhões) para o setor.
A detenção ocorreu devido à constatação da presença de carbendazim — fungicida usado na prevenção das pragas pinta preta e estrelinha, nos pomares — no produto.
Na avaliação do presidente da CitrusBr, Christan Lohbauer, o suco de laranja brasileiro é um produto em conformidade com uma lista de padrões relativos a alimentos reconhecidos internacionalmente, denominada Codex Alimentarius (Código Alimentar). Seus limites de aceitação para consumo, segundo este código, variam de um país para outro. Para o suco de laranja, a Organização Mundial de Saúde (OMS) estabelece como "seguro" o limite de mil partes por bilhão (ppb).
Parâmetros
Em 2009, o registro de tolerância para o fungicida — que nos Estados Unidos era de 500 ppb — expirou, segundo informou o FDA à Coca-Cola, empresa que detectou o Carbendazim no suco de laranja, em novembro.
Com isso, o FDA estabeleceu novos limites — de 80 ppb para o suco já internalizado e 10 ppb para o suco que chega. Essa decisão é questionada pela CitrusBr, pois a entidade entende que o produto brasileiro atende às exigências dos compradores estadunidenses.
Além disso, O FDA não faz diferenciação entre o suco concentrado e o não concentrado para estabelecer os limites da substância, o que representaria uma distorção estatística.
"Uma tonelada de suco concentrado possui a mesma quantidade de sólidos solúveis que 5,5 toneladas de suco não concentrado", exemplifica Lohbauer.
Fungicida é usado em outras frutas
A farmacêutica Thalita Pedroni Formariz Pilon, do Centro Universitário de Araraquara (Uniara), explica que o carbendazim é um fungicida bastante abrangente e largamente utilizado para controlar doenças fúngicas em cereais e frutas, incluindo cítricos, bananas, morangos, abacaxis, entre outros.
Segundo ela, o Ministério da Agricultura segue padrões da Organização Mundial da Saúde (OMS) para estabelecer limites da substância. Entretanto, estudos revelam que, ingerido em altas doses, o fungicida pode causar infertilidade. Em testes, testículos de animais de laboratório foram destruídos. Também aumenta o risco de tumores de fígado nas cobaias.
Combate a pragas pode ter preço triplicado
Segundo o presidente da Associação Brasileira de Citricultores (Associtrus), Flávio Viegas, caso o carbendazim seja proibido no Brasil, o custo do combate à pinta preta e estrelinha pode triplicar. Isso implicaria aumento no custo de produção de uma caixa de 40,8 kg de laranja, que hoje gira em torno de R$ 18. Viegas diz que o carbendazim consta na lista dos produtos autorizados para uso nos contratos feitos entre indústrias e produtores.
R$ 174 bi
É o valor que pode chegar o prejuízo das empresas produtoras de suco de laranja no Brasil, de acordo com estimativa da CitrusBR
Fonte:Araraquara.com