Ibitinga, Quinta, 21 de Novembro de 2024
Drama familiar diluído por humor
"Os Descendentes" concorre a direção, roteiro e atuação, entre outros

Certos atores parecem idealmente conectados aos personagens que interpretam, e essa estranha comunhão é muitas vezes o que transforma um filme em uma experiência maior do que o cinema. Parece ser o caso de George Clooney em "Os Descendentes" (EUA, 2012), filme que entra em cartaz com o incentivo extra dos prêmios no Globo de Ouro (melhor filme e melhor ator, ambos na categoria drama), além de nomeações no Oscar (entre outros, direção, roteiro e atuação).

Clooney interpreta uma pequena variação de um personagem que parece próximo de sua própria estatura, Matt King, homem com pouco mais de 50 anos, um galã depois dos dias de vantagem, que se dedica mais a seu trabalho como advogado num gabinete do que à família. Ou talvez seja justamente essa a qualidade de Clooney, atrair para perto de si mesmo um personagem que a princípio não seria necessariamente associado à sua personalidade, e então fazer com que o espectador reconheça essa nova criação como pertencente a uma construção pessoal.

Ele mora no Havaí e vem de uma família muito rica que é dona de parte considerável de um terreno numa área essencial para o turismo. O resto da família e Matt estão para vender esse terreno, local especial para a família, e existe uma pequena tensão social sobre o destino desse espaço. Todos os primos empresários, nas reuniões para definir o futuro incerto do negócio, usam camisas havaianas, bermudas e chinelo, sem dúvida pequena demonstração de bom humor.

A mulher de Matt sofre um acidente num barco e fica em coma, e assim como em grandes tragédias épicas as notícias gradualmente pioram. Matt precisa se reaproximar de suas duas filhas, Scottie, precioso alívio cômico ao drama do filme, e Alexandra, jovem adulta que é a portadora de más notícias. As situações se complicam enquanto Matt começa a juntar os cacos de sua vida, buscando apoio até então inexistente em sua família. O que realmente torna essa história até certo ponto comum é a interpretação dos atores, todos aplicados a uma proporção de intimidade que ressalta o aspecto "família" do enredo.

O filme é dirigido por Alexander Payne, cineasta de poucos filmes, em geral obras sem grande impulso no mercado, mas cheios de personalidade (como "Eleição", de 1999, e "Sideways", de 2004). Parece ser comum ao cinema de Payne a observação de um indivíduo comum em momento de crise, a dificuldade em lidar com perdas e ganhos inesperados, e em "Os Descendentes" Payne parece pender fortemente para o drama comum ao tema, a ameaça iminente do exagero, refreado por ocasionais demonstrações de humor.

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