O telão exibe um comercial estrelado pela banda americana Mötley Crüe. O rock pesado ecoa alto pelo auditório onde o Optima é apresentado. Foi a maneira escolhida pela Kia para dizer que o novo sedã chegou para fazer barulho.
Optar por uma banda que surgiu no início dos anos 1980 revela qual é o público-alvo do lançamento: gente com estilo jovem, que acaba de passar dos 40 anos e tem posição financeira confortável -o sedã custa R$ 96,9 mil.
O Optima testado veio com a cor da moda, branco perolizado. Por dentro, revestimentos em couro bege e plástico cinza. A Kia aposta que essa será a configuração mais procurada.
A curva suave e contínua do teto segue a tendência de aproximar os modelos três volumes dos cupês esportivos. Funcionou bem, sem comprometer o espaço para a cabeça no banco traseiro. O vão para as pernas também é satisfatório, graças à grande distância entre eixos (2,79 m).
LINHA BRANCA
O eletricista Joaquim Lopes da Cunha, 49, estava no intervalo do almoço quando o Optima entrou em um posto de gasolina de Cordeirópolis (158 km de São Paulo). Ele, que descansava em um banco da parada, aproximou-se do carro e perguntou em tom de brincadeira: "O branco paga menos IPI?"
Não, Joaquim. Carro branco é uma coisa, linha branca de eletrodomésticos é outra. E é bom não falar do Imposto sobre Produtos Industrializados perto dos representantes da Kia. O assunto não traz boa lembrança à empresa.
Pelos planos iniciais, o Optima seria lançado no terceiro trimestre de 2011. Mas mudanças nas regras de tributação surpreenderam a marca, que teve de rever a estratégia.
"Demos uma segurada para sentir o mercado", afirmou José Luiz Gandini, presidente da Kia Motors do Brasil.
A empresa acusou o golpe. Sem estoque no momento da implementação dos 30% adicionais sobre a tarifa, a Kia foi a primeira a reajustar preços e, por isso, perdeu vendas.
O susto passou, mas a marca enfrenta outro problema: o baixo volume que a matriz sul-coreana exporta para o Brasil. Com vendas em alta mundo afora, a Kia tem pouca flexibilidade para aumentar os lotes. O Optima tem predicados para alcançar boa posição no mercado, mas tudo dependerá de quantas unidades chegarão por mês à rede concessionária.
NA ESTRADA
O teste de 212 quilômetros pelo interior de São Paulo ajudou a conhecer melhor o novo sedã. Seu rodar é firme, levemente esportivo, e as reações aos comandos do volante são bastante diretas. O Optima é um sul-coreano que se aproxima da escola alemã.
Quem prefere a suavidade de modelos mais "americanizados" poderá estranhar a aspereza do Optima em algumas situações. As rodas aro 18 (item de série) e os pneus de perfil baixo são bastante sensíveis ao piso. Basta o asfalto ficar um pouco mais rugoso para que se percebam leves vibrações na cabine.
O que é ruim para alguns, é qualidade para outros. Tal sensibilidade ajuda a "sentir" melhor o carro, que tem motor 2.4 16v a gasolina (180 cv). E é também uma característica comum a alguns de seus concorrentes, como o Volkswagen Passat (a partir de R$ 122.450) e o Volvo S60 T4 (R$ 101,3 mil).