A criação do Consecitrus continua gerando discussões e polêmicas. De um lado, a indústria quer estimular os citricultores com propostas para a criação do Consecitrus. Do outro, produtores de laranja e entidades continuam desconfiados das propostas apresentadas, dado a fatos passados e recentes na relação entre citricultores e indústria. Os produtores pedem mais transparência nas atitudes da indústria e nas divulgações de informações, principalmente sobre a formação de preços e safras.
Para esclarecer algumas dúvidas, mais um debate foi promovido. Desta vez, no programa Mercado, Arte & Cia, apresentado por João Batista Olivi, que reuniu o presidente da Associtrus, Flávio Viegas, Christian Lohbauer, presidente da CitrusBR e Gastão Crocco, diretor do Departamento de Citricultura da Sociedade Rural Brasileira (SRB).
Durante o debate, Flávio Viegas, manteve suas críticas ao conselho criado para definir uma nova forma de remuneração ao citricultor e relatou que a proposta do Consecitrus partiu da Associtrus e não da indústria. “Durante estes dez anos foram feitas várias tentativas de negociação sem que a indústria apresentasse qualquer interesse no assunto”.
Para chegar a um acordo e implantar o Consecitrus é necessário desenvolver estudos e negociações que exigem pouco mais de tempo. “Repentinamente a indústria passou a se interessar pelo assunto e quer, numa simulação de negociação, impor o seu Consecitrus, que não atende os pressupostos de transparência”, diz Viegas.
Lohbauer rebateu afirmando que a citricultura brasileira passa por um momento complicado e o maior problema é o consumo de suco mundial que esta estagnado. Portanto, é preciso criar um conselho que resolva não só preços, mas também, outros assuntos que foram colocados em pauta. Mas, com certeza, o preço é o fator que mais interessa a todos. Por isso, o Consecitrus deve ser parecido com o conselho que existe no setor da cana (CONSECANA), onde um dos objetivos é criar regras para a formação de preços.
O presidente da CitrusBR ainda justificou que a industria não criou um modelo de Consecitrus, e sim sugeriu uma forma de como formatar os preços que seriam decididos através de reuniões entre os representantes da classe e produtores, onde todos discutiriam sobre problemas enfrentados pela citricultura entre eles: estimativa de safra, o greening e a situação do mercado internacional.
Lohbauer afirma que para que essas discussões cheguem a algum lugar e tenham resultado tem que existir um único representante que seria o porta voz dos interessados.
O presidente da Associtrus manteve sua opinião e garantiu ser difícil todas as entidades terem a mesma idéia. Por isso seria impossível um único representante. Acrescenta ainda que a formação de preço formado por “sólido solúvel” seria uma maneira que a indústria achou para estabelecer o preço passando a imagem de que estes valores vêm através de pesquisas feitas no mercado, quando na verdade será a industria que vai impor uma remuneração ao produtor que interessa somente a ela. Sendo assim, a melhor forma de definir preços seria pesquisa através da gôndola do mercado.
Já Gastão Crocco, diretor do Departamento de Citricultura da Sociedade Rural Brasileira (SRB), acha que estas discussões entre a Associtrus e a CitrusBR não vão chegar a lugar nenhum e nem vai amenizar a desconfiança dos produtores rurais. Para que isso tenha um fim, a melhor solução seria contratar uma consultoria econômica e uma consultoria jurídica independente dos setores, para formatar o Consecitrus e definir a remuneração.
Na tentativa de explicar a todos que a indústria já esta agindo com clareza, Christian Lohbauer, continua dizendo que tudo esta registrado no site da CitrusBR. Mas para rebater este fato o presidente da Associtrus diz que a CitrusBR nunca deixou ninguém ter acesso aos números (dados) e sempre apresentou relatórios prontos.
Vários produtores se manifestam durante o debate e entre eles o presidente do Sindicato Rural de Ibitinga e Tabatinga, Frauzo Ruiz Sanches, dizendo que é importante à criação de um conselho como o Consecitrus, desde que seja tudo feito às claras, pois a desconfiança vem de fatos ocorridos no passado e será muito difícil reverter isso apenas com discurso. “Uma forma de resgatar a confiança de todos seria a contratação de técnicos que possam esclarecer tudo através da apresentação de relatórios para que não haja dúvidas em nenhum dos lados”, conclui.
Frauzo afirmou que em conversa com produtores das cidades de Ibitinga e Tabatinga sobre a criação do Consecitrus verificou a falta de confiança e a resposta de um produtor chamou a atenção: “Se é a indústria que esta fazendo isso, não é bom para nós”.
Segundo o presidente, é fato que o passado não foi esquecido. Por isso precisa haver uma divisão de responsabilidade entre os diferentes elos do setor. “Uma forma seria contratar um técnico que possa esclarecer o que é fato e o que é lenda”, declara o presidente Frauzo.