Próximo de celebrar seu dia — o Dia do Agricultor, em 28 de julho —, o citricultor independente não tem o que comemorar. A sensação, para quem investiu no cultivo da laranja este ano, é de completo abandono por parte das autoridades, afinal, apesar das inúmeras discussões realizadas pela Comissão Especial de Citricultura, em todos os âmbitos e esferas governamentais, até agora nada de efetivo foi feito no sentido de se iniciar a colheita da safra 2012/2013 da fruta, que deveria ter começado em maio. A estimativa é de que pelo menos cinco milhões de caixas de 40,85 quilos já tenham estragado.
São Paulo concentra 85% da produção nacional e a região de Itápolis, Ibitinga e Tabatinga é a segunda maior produtora de laranja do estado. “A crise da Laranja está causando muita apreensão em toda a região, porque muitos municípios têm a citricultura como principal fonte de renda e o município de Ibitinga também tem na sua economia grande contribuição do setor citrícola, principalmente na geração de emprego e renda”, avalia o engenheiro agrônomo da Casa da Agricultura, Carlos Roberto Malosso.
O engenheiro alerta que sem a colheita e a venda da produção, o produtor ficará descapitalizado, podendo ser obrigado a deixar honrar seus compromissos financeiros e que isso terá reflexos também em outros setores como de serviços, fornecedores de insumos, escritórios de contabilidade, postos de combustíveis e setor de saúde.Além da falta de geração de empregos diretos os indiretos também serão afetados. “Para se ter uma idéia do reflexo da crise, só no município de Ibitinga são necessários 700 colhedores, para colher a safra estimada em cinco milhões de caixas, com duração de colheita de cinco meses, fazendo-se uma média de 50 caixa peso ao dia por colhedor. Além deles, ainda são necessários fiscais, apontadores, carregadores e transportadores. Sendo assim, aproximadamente 800 trabalhadores diretos são afetados pela falta de colheita da fruta. Por isso, é necessário que todos os setores que dependem direta ou indiretamente da citricultura não deixem de se mobilizar para que isso se resolva o mais rápido possível não aumentando ainda mais a crise”, explica Malosso.
“A minha sorte é ter a minha casa própria e não precisar pagar aluguel, além disso, sou solteiro, então, dá para viver e pagar as contas, mas para quem vive de aluguel e tem que sustentar a família a situação está difícil”, comenta Eliseu Teixeira de Morais, que deixou de trabalhar em usina para colher laranja há 12 anos.
Desestimulados com a crise desta safra, muitos citricultores pretendem abandonar a atividade como é o caso de Hamilton de Alice Calori. “A laranja está pronta para ser colhida, mas não vende. Está tudo caindo no chão e as contas não esperam. Para este ano, acho que não há esperança..., Para o próximo ano talvez resolva alguma coisa, mas este ano é do que está se vendo para pior. Sem apoio das autoridades e das indústrias fica difícil, por isso, não pretendo plantar mais laranja”, afirma.
Citricultor há 20 anos, José Marco Crepaldi enfrentou dificuldades em 1999, mas considera esta a pior de todas as crises da atividade. “É uma situação muito difícil, porque os gastos foram muito grandes, já temos alguns compromissos vencidos, outros que estão vencendo, e dependemos do dinheiro da safra para quitá-los. Tenho um pomar entrando em produção, fiz divida em cima disso, e hoje estou sem esperança nenhuma, sem saber como pagar os investimentos que foram feitos. Estamos sem rumo, até mesmo para cuidar da próxima florada, pois não há recurso. E pelas notícias que temos, pelo terrorismo feito pelas fábricas, há pouca expectativa de se resolver esta crise e de se poder fazer novos investimentos em uma safra futura, mesmo porque não vai haver nem crédito disponível para isso”, desabafa.