Na última quinta-feira, 26 de julho, produtores de laranja da região de Ibitinga, Itápolis e Tabatinga integraram uma manifestação realizada em Taquaritinga para chamar a atenção das autoridades para a grave crise enfrentada pelo setor independente de produção da fruta.
Inicialmente marcada para acontecer na altura do km 327 da Rodovia Washington Luiz, a manifestação precisou seguir para o centro da cidade de Taquaritinga, porque a concessionária da estrada impediu o ato por meio de liminar. A carreata até a praça central chegou a provocar congestionamento de cerca de 20 quilômetros.
Os manifestantes distribuíram para a população de Taquaritinga 10 toneladas de laranjas, segundo informou Marco Antonio dos Santos, presidente da Câmara Setorial de Citricultura e do Sindicato Rural de Taquaritinga. Outros 200 litros de suco foram despejados em praça pública.
Valter Kodama, produtor de Taquaritinga, participou da manifestação na intenção de conscientizar a opinião publica sobre o que esta acontecendo na citricultura brasileira e avaliou como positivos os resultados. “Espero que, com esea iniciativa, as autoridades se sensibilizem e sentem para negociar com o produtor rapidamente, porque a laranja esta se perdendo nos pomares e quanto mais demora maior o prejuízo”, disse. Apesar da incerteza em mudar de setor, depois de quase trinta anos trabalhando com laranja, se nada mudar, o citricultor deve partir para outras atividades, como já fez em algumas propriedades: a cana-de-açúcar e a manga. “Infelizmente vivemos nesse desespero, porque nos últimos anos não sabemos para onde vai a agricultura. “Se agente correr o bicho pega. Se fica o bicho come”, enfatizou.
Segundo o produtor e presidente do Sindicato Rural de Ibitinga, Frauzo Ruiz Sanches, a manifestação foi válida na intenção de chamar a atenção para o problema, mas falta urgência da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado em apreciar o pedido dos produtores de distribuição de suco através de programas sociais. “A situação é emergencial, afinal, trata-se de um produto perecível. A saída para resolver o problema é a absorção do suco, o governo precisa entrar comprando e distribuir nos programas assistenciais que existem como Viva Leite e Leve Leite e na merenda escolar. Isso já foi apresentado tanto para governo do estado quanto para o governo federal, estão sendo analisadas essas possibilidades, mas esta demorando muito uma resposta, e isso prejudica o produtor, pois a laranja é um produto perecível”, afirma.
Vários prefeitos de cidades da região também participaram do movimento, entre eles, os prefeitos de Ibitinga, Sérgio Fonseca, de Tabatinga, José Luiz Quarteiro, de Iacanga, Ismael Edson Boiane e de Itápolis, Júlio César Nigro Mazzo. Representantes de deputados também estiveram presente. Apesar disso, em nota, o governo do estado afirmou não ter condições de absorver toda a produção e que estaria em tratativas para ajudar a escoar parte da safra.
Opinião de autoridades
“Só através desses movimentos conseguimos ajuda da mídia para mostrar a realidade, para que o governo procure nos dar apoio nesse momento. Esse tipo de ação é muito importante para que todos tenham oportunidade de ver o que esta se passando com a nossa agricultura. Nós, prefeitos, estamos organizado uma audiência com o governador Geraldo Alckmin para a semana que vem, para falarmos sobre as medidas para ajudar a escoar esse estoque de 500 mil toneladas de suco que a indústria afirma existir, embora eu ache um absurdo. Mas, nesse momento, não podemos buscar culpados e sim nos unirmos – produtores, sindicatos, governo e indústria – em busca de uma solução. O governo precisa achar o melhor caminho, para não se erradicar uma cultura que custou tanto a se formar e chegar em um tempo de falta de suco” - José Luiz Quarteiro (prefeito de Tabatinga)
“O movimento foi necessário para mostrar para a opinião o problema do setor. Em parte, essa crise pode ser atribuída a falta de planejamento do próprio governo, que financiou a maior parte da produção da laranja (tendo linha de credito, o produtor planta e produz, pois é o que sabe fazer). Agora, que se plantou mais do que a indústria pôde escoar, gerando sobra do produto no mercado, acho natural que a solução do problema seja partilhada com o governo. O governo federal não pode deixar o produtor tomar o prejuízo sozinho, porque foi ele quem financiou a produção. É uma situação grave, um problema econômico e social. São mais de 35 mil empregos diretos, com colhedores e transportadores da fruta, afetados. Existe praticamente um cartel, um monopólio da industrialização, e se é verdade que existe um estoque de suco muito grande a solução é a intervenção do governo, a liberação de recursos para que o produtor não perca a safra, que já está caindo e se perdendo. O que queremos é sensibilizar o governo para a solucionar esta crise, através da compra desse alimento precioso que pode ser ofertado para nossas crianças” - Ismael Boiane (prefeito de Iacanga)