Há 36 dias sem chover, o período de estiagem já começa a prejudicar a produção de alimentos como legumes e carne bovina na região. E o reflexo chega ao bolso.
De acordo com a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) em Bauru, alguns legumes como chuchu, abobrinha, vagem e frutas como o tomate, que já sofreriam uma redução na produção por conta do inverno, deverão apresentar aumento de até 30% no preço dentro dos próximos dias por causa da seca.
A previsão do reajuste é confirmada por alguns supermercados de Bauru. O impacto só deve ser menor em itens cultivados em estufas. Mesmo assim, há problemas.
“A falta de chuva agrava o setor. Os itens cultivados em estufa não darão conta da demanda. Pode ser que haja uma ligeira alta nos preços, dada a diferença entre a produção e a demanda, influenciadas pelas condições climáticas”, enfatiza o gestor de compras do setor de hortifrúti de um supermercado em Bauru, Alexandre Fátimo.
Por conta da seca, o técnico operacional agrícola do Ceagesp de Bauru, Augusto Remoli Filho, explica que o preço desses legumes deve começar a subir a partir da próxima semana.
Entre a lista dos produtos que deverão oscilar no mercado estão o chuchu e a abobrinha, que de R$ 12,00 passarão a ser vendidos no Ceagesp a aproximadamente R$ 20,00 - na disposição de caixa de 20 quilos. Outro legume que sofrerá aumento nos próximos dias é a vagem, que apesar de ter uma produção forte na região de Bauru, passará a ter a caixa com 14 quilos comercializada de R$ 50,00 por R$ 65,00.
Até para o boi
A pecuária, segundo explica o engenheiro agrônomo da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati) de Bauru, Luís César Demarchi, também será afetada nos próximos meses pela seca.
“Atualmente, a arroba do boi é comercializada em R$ 90,00 e, com o período de estiagem, pode atingir a casa dos R$ 100,00 por causa da falta de pastos para o boi”, considera Demarchi.
A chuva da discórdia
Ao ser questionado sobre o fenômeno do aumento de preço de produtos agrícolas por conta do período de estiagem, o engenheiro agrônomo da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati) de Bauru, Luís César Demarchi, relativiza.
“Quem planta legumes nessa época do ano não arrisca trabalhar sem um sistema bom de irrigação. No mês passado, eles deram a desculpa de que o tomate aumentou por causa da chuva e agora é por causa da falta dela. Acredito que isso seja uma desculpa para o aumento de preço”, defende.
Segundo ele, as atenções são voltadas mais à pecuária quando se trata de estiagemjustamente por causa da flata de pastagem.
E segue o seco
Conforme o Instituto de Pesquisas Meteorológicas (IPMmet) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), a última terça-feira foi o dia mais seco do ano e a cidade entrou em estado de atenção por volta das 16h20, apresentando umidade relativa do ar em 20%.
Entretanto, para este final de semana, a meteorologista do IPMet, Rita Cerqueira Lopes, aponta que a umidade deverá melhorar com a aproximação de uma frente fria no Estado.
“Essa frente fria quebrará a situação de bloqueio causada pelo sistema de alta pressão estacionário que atua no estado e que afasta as nuvens”, explica Rita.
Ainda segundo o IPMet, o período de estiagem deste mês superou a expectativa. A média de chuvas esperada para agosto era de 34 milímetros, mas até o momento a ‘seca’ prevalece e deverá seguir, de modo confirmado, até quarta-feira da próxima semana.
Alimentos ‘hidratantes’
Além de beber muita água, principalmente quando o clima está seco, o cuidado com a alimentação em geral deve ser mantido. A nutricionista Mariana Raimundi do Amaral afirma: frutas, verduras e legumes também são alimentos “hidratantes”.
“As dicas para estas épocas mais secas são: ingerir muita água, água de coco, sucos, chás e frutas e legumes em geral, ou seja, fazer refeições mais leves. Por mais que refresquem, refrigerantes e bebidas alcoólicas não são indicados. Os refrigerantes porque possuem grande concentração de açúcar e as bebidas alcoólicas porque enganam. Ao mesmo tempo que hidratam, desidratam”, destaca.
Óbvia, mas nem sempre seguida, outra dica é evitar os alimentos mais salgados como, por exemplo, a carne-seca e o bacalhau. “Os alimentos mais salgados como a carne-seca e o bacalhau devem ser evitados porque o sal ajuda a reter líquido”.
Tomate ‘de ouro’; alface nem tanto
Alvo de disputa de preço nos supermercados por conta das últimas chuvas e do frio, o tomate deverá ser outro produto a apresentar aumento nas próximas semanas.
Há um mês, era vendido a preço de “ouro” chegando a quase R$ 7,00 o quilo.
Após esse período, o alimento já apresentou reduções sendo vendido ao consumidor final por R$ 2,50 a R$ 3,00 o quilo.
Apesar da redução, o técnico operacional agrícola do Ceagesp de Bauru, Augusto Remoli Filho, explica que a tendência será de novo aumento. “As estufas da região protegem o tomate do frio e da seca e ajudam muito na manutenção do preço. Mas a maioria dos produtores deve perder a florada deste mês, que será prejudicada pelo tempo e pela irrigação, muitas vezes insuficiente tamanha a seca”.
Atualmente, o preço da caixa do tomate contendo 23 quilos atinge no Ceagesp de R$ 60 a R$ 65.
Segundo Remoli, se o aumento acompanhar o último reajuste o preço da caixa poderá atingir R$ 100,00.
Já as verduras e demais legumes não deverão sofrer aumento. Motivo: baixo consumo desses produtos nesta época do ano. “A verdura está em queda e deverá permanecer assim até novembro”, frisa o técnico operacional do Ceagesp em Bauru.
O comprador Jorge Otta, encheu a caçamba de sua caminhonete ontem no Ceagesp com verduras. “Já estou acostumado com essa variação de preços, mas procuro aproveitar enquanto ainda está baixo” afirma.
Jc