Victor Soares Silva, de 8 anos, sofre de polidactilia - alteração genética que causa aumento na quantidade de dedos nas mãos ou nos pés - e sonha em ter cinco dedos em cada pé para jogar bola. Por causa do problema, o garoto, morador de Abadiade Góias, cidade da Região Metropolitana de Goiânia, tem seis dedos em cada mão e sete dedos em cada pé, totalizando 26. “Quero muito tirar esses dedos que tenho a mais para jogar bola. Não sou jogador de linha. Só fico no gol porque não posso usar chuteira, mas quero jogar de atacante, nas laterais direita e esquerda”, afirma, explicando que hoje brinca usando chinelo ou descalço.
Victor cursa o 3º ano do ensino fundamental e é criado pela bisavó, Francisca Rosa Soares, de 73 anos. Os pais, separados desde que ele era recém-nascido, vivem em cidades do interior de Goiás para trabalhar. “Ele é uma criança que todo mundo adora. Os vizinhos todos o levam para festas, para todo lugar”, diz a bisavó.
Desde que Victor tinha 1 ano, Francisca tenta conseguir uma cirurgia para o bisneto. Ela conta que já foi a vários hospitais, mas nunca conseguiu uma solução para o problema. “O levei ao Materno Infantil e à Santa Casa. Foi um ano nessa luta, tinha dia que acordávamos 3h ou 4h da madrugada para ir a Goiânia. Os médicos ficaram transferindo a gente de um lugar para outro. Tem hospitais que fui que nem me lembro o nome mais”, lembra a idosa.
Dificuldades
A bisavó conta que Victor também tem problema de crescimento, mas, segundo os médicos, só pode fazer tratamento após passar por cirurgia para corrigir a anomalia. Ela diz que a maior dificuldade do menino é para calçar sapato fechado. Como ele tem sete dedos em cada pé, só pode usar chinelo.
“Ele só calça chinelinho de dedo e, mesmo assim, já não estamos encontrando um modelo que sirva nele e comporte todos os deles. Essa cirurgia é a coisa que mais tenho vontade na minha vida. Quero ver meu neto feliz. Sempre quando o levo para comprar calçado ele fica escolhendo os que ele quer e, por fim, quando percebe que não tem nenhum que vai dar certo, senta em um canto e começa a chorar. Eu choro junto com ele. A solução é a cirurgia”, afirma Francisca.
De acordo com ela, o caso de Victor é único na família. Mesmo assim, ela autorizou que o menino fosse submetido à cirurgia somente nos pés, pois acredita que a anomalia das mãos não vai prejudicá-lo futuramente. Porém, não é assim que o garoto entende. “Não gosto desses dedos [da mão] porque é ruim para colocar luva e goleiro, fica engastalhando e tenho que colocar dois dedos em um lugar só”, reclama Victor.
Cirurgia
Victor está sendo atendido no Centro de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo (Crer). Ele já passou por duas consultas e, segundo o diretor de regulação do Centro de Saúde de Abadia, Márcio Roberto Flores, deve ser submetido a exames pré-operatórios ainda neste mês. De acordo com ele, na última consulta médica, o ortopedista responsável pelo caso do garoto entregou um documento solicitando autorização para o procedimento cirúrgico. Ele diz que a cirurgia foi autorizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e encaminhada novamente ao centro de reabilitação.
“O Crer informou que devido à recente greve dos anestesistas de Goiás a demanda cresceu. Como o caso dele [Victor] é considerado eletivo [não ocorre em situação de urgência e emergência], agora só depende do Crer”, alega Márcio Roberto.
O G1 entrou em contato com o Crer e, segundo a assessoria de imprensa, o documento autorizado pelo SUS não foi entregue na unidade. A assessoria informou que só pode precisar a data da cirurgia a partir do momento em que a autorização for entregue. Sobre o caso, a unidade disse que só vai se pronunciar após a cirurgia.
G1