Ibitinga, Segunda, 25 de Novembro de 2024
Crise no setor faz região perder 3,2 milhões de caixas de laranja
Baixa remuneração oferecida pela indústria fez citricultores desistirem da colheita e frutas apodrecem

Laranjas estão apodrecendo nos pomares cultivados na região de Bauru. Com dificuldades para comercializar a safra, muitos citricultores desistiram de colher a fruta e temem perder toda a produção deste ano caso o governo federal não apresente nenhuma solução para o impasse. A crise ocorre em nível nacional devido às supersafras dos últimos dois anos e à redução mundial do consumo de suco.

Em toda a região, a estimativa é de que cerca de 3,2 milhões de caixas de laranja já tenham sido perdidas, 23% do total de 16 milhões de caixas esperadas para 2012. Somente em Bauru, de acordo com o Sindicato Rural do Estado de São Paulo, já teriam apodrecido o equivalente a 506 mil caixas.

A explicação para tamanho disparate é econômica. Com excesso de suco estocado durante o ano passado, a indústria não demonstrou interesse em comprar grande parte da nova produção. Segundo a Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), as três principais usinas processadoras de laranja no Estado ofereceram R$ 7,00 por caixa, o que não foi aceito pelos produtores.

De acordo com o Sindicato Rural, o custo de produção de cada caixa é de R$ 15,00 e, se aceitassem a proposta, os citricultores estariam “pagando para trabalhar”. “Só o custo da colheita é de R$ 5,00 por caixa. Seria absurdo vender por este valor”, cita Maurício Lima Verde, presidente do sindicato e vice-presidente da Federação da Agricultura do Estado de São Paulo (Faesp).

Ele explica que a indústria se encontra, hoje, numa posição confortável porque, além de possuir grande volume de suco em estoque - que seria capaz de suprir a demanda até o final desta safra - também é dona de quase metade das plantações no Estado. “Elas estão se tornando autossuficientes, exportam quase 98% do suco que produzem e não querem mais depender do produtor. Elas se recusam a negociar por um valor maior e a quebradeira, se a ajuda (federal) não vier, vai ser geral”, diz, salientando que cerca de 700 mil pessoas estão diretamente ligadas à produção de laranja na região.

 

Consumidor tranquilo

Como não há falta de produto no mercado, pelo menos por enquanto o consumidor não deverá sentir impacto no bolso. A consequência imediata, segundo Lima Verde, será o prejuízo financeiro aos citricultores, que poderão enfrentar dificuldades para investir na próxima safra.

“E o custo de produção de laranja é muito alto, por ser uma fruta muito sensível a pragas e depender da aplicação de defensivos. Afora os gastos com mão de obra”, frisa.

O governo, de antemão, garantiu subsídio de R$ 3,10 por caixa produzida, como forma de garantir um preço mínimo de R$ 10,10 nos estados de São Paulo e Minas Gerais. Mas, para Lima Verde, a medida não será suficiente para tirar o setor do sufoco.

“Nunca houve uma situação como esta na citricultura brasileira. E, se o governo não garantir em até 15 dias a ajuda necessária para ao menos evitar que os produtores tenham prejuízo, todas as laranjas que ainda estão no pé poderão ser perdidas”, adianta.

O Estado de São Paulo responde por 90% do total de 364 milhões de caixas esperadas para esta safra. Destas, 84 milhões já se perderam e outros 112 milhões ainda estão no pé, prontas para serem colhidas. O restante, produzido pelas próprias usinas, não deverá ser desperdiçado.

A CitrusBR destaca que a indústria só seria obrigada a comprar laranja caso tivesse firmado contrato antecipadamente com os citricultores -o que não ocorre na maioria dos casos. Ainda conforme a entidade, diante do desinteresse para compra, a oferta de R$ 7,00 teria sido “um acordo possível” para evitar a derrocada dos produtores.

Produtor de laranja, o prefeito de Iacanga, Ismael Edson Boiani, conta que já perdeu cerca de 50 mil caixas de laranja em função da baixa remuneração paga pela indústria. “São poucas usinas e elas pagam o mesmo preço. Nunca a laranja esteve tão barata e nunca o suco esteve tão caro. Elas controlam o mercado mundial de suco e estão lucrando muito”, reclama.

Nos pomares do produtor, ainda restam no pé o equivalente a cerca de 150 mil caixas de laranja, que ele decidiu comercializar a preços abaixo de custo. “Pelo contrato, na primeira quinzena, eles pagam R$ 3,00 por caixa. Na segunda quinzena, o mesmo valor. Depois deste período, o valor pode chegar a R$ 7,00. Sei que estou perdendo dinheiro mas, diante da situação extrema, é uma forma de tentar minimizar os prejuízos”, lamenta.

 

Socorro

Por meio de nota, o Ministério da Agricultura informou que adotou uma série de medidas nos últimos meses para evitar prejuízos maiores à citricultura. Entre elas está a prorrogação do prazo de pagamento das dívidas contraídas pelos produtores de laranja para fevereiro de 2013; fixação de preço mínimo da caixa a R$ 10,10, até dezembro deste ano, em São Paulo e Minas Gerais; crédito de até R$ 150 mil para manutenção dos pomares, a serem pagos em cinco anos, com juros de 5,5% ao ano; e prorrogação da Linha Especial de Crédito (LEC), concedida para a safra passada para garantir, com o financiamento da estocagem de suco, o escoamento da colheita.

 

Muita oferta x pouco mercado

Segundo a Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBr), o excesso de laranja foi causado pela supersafra de 2011, uma das maiores da história, quando foram produzidas 428 milhões de caixas. Em 2012, de maneira inesperada, os laranjais voltaram a produzir uma safra grandiosa, cerca de 365 milhões de caixas.

A CitrusBr também afirma que, desde 2006, o mundo deixou de consumir mais de 220 milhões de caixas da fruta. A concorrência com outras bebidas, como os isotônicos e as águas saborizadas, é apontada como a principal causa para o encolhimento do mercado, mas a crise econômica na Europa e nos Estados Unidos também teria colaborado para o prejuízo nas vendas. 

JcNet

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