Perto do início da validade da lei que vai proibir a queimada nos canaviais, usinas estão adotando simuladores para treinar operadores de máquinas que são usadas na colheita da cana-de-açúcar.
A tecnologia, semelhante à que é usada no treinamento de pilotos de avião, já foi adotada por duas usinas da região de Ribeirão Preto (313 km de São Paulo).
A partir de 2014, será proibido no Estado queimar cana, o que inviabiliza o corte manual. A regra valerá, no primeiro momento, para áreas planas, onde é possível usar as máquinas colhedoras --nos demais terrenos, a proibição será a partir de 2017.
A adoção dos simuladores tem como objetivo aprimorar e acelerar o treinamento dos operadores de máquinas, muitos deles integrantes de uma geração de trabalhadores que, antes, atuavam na colheita manual da cana.
Os simuladores criam um cenário parecido com o do canavial. Em uma cabine com som ambiente e onde é possível até projetar imagens em 3D e movimentos, o futuro operador enfrenta condições semelhantes às do campo.
As usinas São Martinho, em Pradópolis, e Santa Adélia, em Jaboticabal, já usam os novos simuladores. Outras 30 devem receber aparelhos semelhantes nesta entressafra, que vai até abril, de acordo com os fabricantes Case IH e John Deere --o valor das máquinas não foi revelado.
Segundo o gerente-global de colhedoras de cana da Case IH, Guilherme de Castro Belardo, o simulador diminui riscos de acidentes e traz economia, já que há redução no consumo de combustível das máquinas que deixam de ser usadas.
O simulador também diminui a depreciação do maquinário e o tempo gasto com o treinamento, afirma ele.
Para o diretor-agrícola da Santa Adélia, Luís Marcelo Spadotto, o simulador permite ao trabalhador chegar ao campo mais confiante e com pelo menos 40% de conhecimento dos comandos.
O gerente de contas estratégicas do segmento de cana da John Deere, Carlos Newton Graminha, diz que a insegurança dos novos operadores --vários deles ex-cortadores de cana-- é trabalhada no simulador. "A cabine virtual dá a chance de o operador conhecer as condições. Ele se torna mais seguro", afirma.
MAIS ATENTO
Há dois anos, o operador José Roberto Rodrigues, 35, deixou o trabalho manual na lavoura de cana e hoje opera uma máquina colhedora.
Rodrigues diz que o simulador o ajuda a se manter mais atento ao redor, como ao veículo de transbordo que o acompanha durante a colheita e aos caminhões que passam pelo canavial.
"Quem deixa o corte manual ou qualquer função na lavoura sofre um pouco quando entra em uma cabine com vários comandos. Agora, a sensação de segurança aumentou", disse Rodrigues.
De acordo com o diretor de recursos humanos da Raízen, Luis Carlos Veguin, hoje, a formação de um operador se dá em torno de um ano, mas com o simulador a expectativa é que o tempo de treinamento prático diminua.
A usina Costa Pinto, em Piracicaba, vai ser a primeira do grupo a receber o simulador ainda neste mês. Os demais serão entregues em abril, em mais 15 unidades, incluindo as de Araraquara e Ibaté --o valor do negócio não foi revelado pelo grupo.
Folha de São Paulo