Ibitinga, Sábado, 23 de Novembro de 2024
SOS Mata Atlântica quer esclarecer morte de 40 toneladas de peixes em Salto (SP)
Animais morreram em um córrego, fugindo do rio Tietê, que no último dia 27 amanheceu com a água preta

Os sedimentos que tornaram preta a água do Rio Tietê em Salto, São Paulo, e provocaram a morte de cerca de 40 toneladas de peixes na região podem não estar relacionados apenas a causas naturais, decorrentes do grande período de estiagem. A coordenadora da Rede das Águas da Fundação SOS Mata Atlântica, Malu Ribeiro, suspeita que tenha havido movimentação de lodo com sedimentos no fundo dos reservatórios da Empresa Metropolitana de Águas e Energia (Emae).

“Nós acreditamos que isso não se deu só por causa da chuva depois da seca. Deve ter ocorrido também uma movimentação de lodo e sedimentos no fundo dos reservatórios, o que precisa ser apurado pelas autoridades competentes”, disse Malu.

A Emae administra uma série de reservatórios e usinas que ficam entre a capital paulista e Salto, sentido no qual corre o Tietê. No último fim de semana, 40 toneladas de peixes mortos foram retiradas do Córrego do Ajudante, próximo ao Rio Tietê, em Salto. Os peixes foram para o afluente fugidos do rio, que no último dia 27 amanheceu com a água preta. O nível do córrego baixou rapidamente e não permitiu que os peixes retornassem ao Tietê, o que causou a mortandade.

A Emae sabia que, quando viessem as primeiras chuvas, ela teria que abrir as comportas para evitar enchentes na região metropolitana. Então, ela deveria ter aproveitado o período de seca para limpar os seus reservatórios, não só os resíduos sólidos, mas principalmente os sedimentos, e ela não fez isso”, disse a coordenadora do SOS Mata Atlântica.

Segundo Malu, a mancha de água preta atingiu mais de 70 quilômetros de extensão do Rio Tietê e prejudicou a indústria de pescado da região, o turismo e o meio ambiente. “Se morreram 40 toneladas de peixes em Salto, imaginem toda a cadeia de fauna, de aves e de animais, e mesmo de pessoas que estão ligadas a essa teia tênue que fica à mercê das mudanças do clima. Temos tecnologia para evitar isso e precisamos de empenho do estado”, ressaltou.

Em nota, a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do estado de São Paulo (Cetesb) informou que continua levantando dados relativos ao episódio. Segundo o comunicado, a companhia  está verificando com os órgãos competentes o regime de operação adotado no sistema de barragem no rio. "Em princípio, a ocorrência da mancha escura de resíduos se deve a dois fatores principais, quais sejam, a elevação abrupta do nível de água no Rio Tietê, em decorrência das chuvas, e o acúmulo de sedimentos ao longo da calha do rio, em razão dos lançamentos de matéria orgânica na RMSP [Região Metropolitana de São Paulo]”, diz o texto.

A prefeitura de Salto informou que está finalizando um relatório sobre a poluição do Rio Tietê e a mortandade dos peixes. O documento será entregue ao Ministério Público Estadual e ao governo paulista. “Mais do que qualquer indenização ao município pelas despesas que teve para solucionar o problema, a expectativa é despertar o governo do estado e os municípios da região para a necessidade de despoluição do rio”, disse a prefeitura em nota.

A prefeitura teve que alugar uma máquina de esteira com um braço de 16 metros para limpar o córrego onde os peixes morreram. Duas retroescavadeiras e três caminhões da municipalidade foram usados na ação, iniciada às 7h de sábado e finalizada na tarde de hoje.

A reportagem procurou a Emae, mas a empresa não se manifestou até o fechamento da matéria.

Globo Rural

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