Os sedimentos que tornaram preta a água do Rio Tietê em Salto, São Paulo, e provocaram a morte de cerca de 40 toneladas de peixes na região podem não estar relacionados apenas a causas naturais, decorrentes do grande período de estiagem. A coordenadora da Rede das Águas da Fundação SOS Mata Atlântica, Malu Ribeiro, suspeita que tenha havido movimentação de lodo com sedimentos no fundo dos reservatórios da Empresa Metropolitana de Águas e Energia (Emae).
“Nós acreditamos que isso não se deu só por causa da chuva depois da seca. Deve ter ocorrido também uma movimentação de lodo e sedimentos no fundo dos reservatórios, o que precisa ser apurado pelas autoridades competentes”, disse Malu.
A Emae administra uma série de reservatórios e usinas que ficam entre a capital paulista e Salto, sentido no qual corre o Tietê. No último fim de semana, 40 toneladas de peixes mortos foram retiradas do Córrego do Ajudante, próximo ao Rio Tietê, em Salto. Os peixes foram para o afluente fugidos do rio, que no último dia 27 amanheceu com a água preta. O nível do córrego baixou rapidamente e não permitiu que os peixes retornassem ao Tietê, o que causou a mortandade.
A Emae sabia que, quando viessem as primeiras chuvas, ela teria que abrir as comportas para evitar enchentes na região metropolitana. Então, ela deveria ter aproveitado o período de seca para limpar os seus reservatórios, não só os resíduos sólidos, mas principalmente os sedimentos, e ela não fez isso”, disse a coordenadora do SOS Mata Atlântica.
Segundo Malu, a mancha de água preta atingiu mais de 70 quilômetros de extensão do Rio Tietê e prejudicou a indústria de pescado da região, o turismo e o meio ambiente. “Se morreram 40 toneladas de peixes em Salto, imaginem toda a cadeia de fauna, de aves e de animais, e mesmo de pessoas que estão ligadas a essa teia tênue que fica à mercê das mudanças do clima. Temos tecnologia para evitar isso e precisamos de empenho do estado”, ressaltou.
Em nota, a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do estado de São Paulo (Cetesb) informou que continua levantando dados relativos ao episódio. Segundo o comunicado, a companhia está verificando com os órgãos competentes o regime de operação adotado no sistema de barragem no rio. "Em princípio, a ocorrência da mancha escura de resíduos se deve a dois fatores principais, quais sejam, a elevação abrupta do nível de água no Rio Tietê, em decorrência das chuvas, e o acúmulo de sedimentos ao longo da calha do rio, em razão dos lançamentos de matéria orgânica na RMSP [Região Metropolitana de São Paulo]”, diz o texto.
A prefeitura de Salto informou que está finalizando um relatório sobre a poluição do Rio Tietê e a mortandade dos peixes. O documento será entregue ao Ministério Público Estadual e ao governo paulista. “Mais do que qualquer indenização ao município pelas despesas que teve para solucionar o problema, a expectativa é despertar o governo do estado e os municípios da região para a necessidade de despoluição do rio”, disse a prefeitura em nota.
A prefeitura teve que alugar uma máquina de esteira com um braço de 16 metros para limpar o córrego onde os peixes morreram. Duas retroescavadeiras e três caminhões da municipalidade foram usados na ação, iniciada às 7h de sábado e finalizada na tarde de hoje.
A reportagem procurou a Emae, mas a empresa não se manifestou até o fechamento da matéria.
Globo Rural