Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) em São Carlos (SP) provaram que o desmatamento em áreas de cerrado altera o balanço hídrico da região, além de potencializar os efeitos da erosão. Segundo o estudo, nos lugares em que a mata é preservada, apenas 1% da água vai embora e, quando a vegetação é arrancada, o total sobre para 20%.
O grupo passou quatro anos tentando medir a quantidade de água que a vegetação conseguia segurar. Para isso, os cientistas utilizaram vários equipamentos em uma fazenda em Itirapina. A estação meteorológica, instalada acima da copa das árvores, contabilizou o total de chuvas. Pluviômetros registraram a quantidade de água que chegava ao chão e coletores captavam o volume que escorria pelos troncos.
“Com a chuva total, menos a somatória do escoamento pelo tronco das árvores e a que atinge o solo, a gente consegue medir a interceptação, ou seja, o que fica absorvido nas árvores. E esse total foi de aproximadamente 20%”, explicou o pesquisador em hidrologia Paulo Tarso.
Nas regiões preservadas, o que escorre para o chão também não é perdido porque as folhas caídas também retêm água. Para comprovar isso, a equipe instalou calhas em áreas de 100 metros quadrados. Quando chovia, a quantidade que o solo não absorvia escorria para essas calhas e seguia por um tubo até uma caixa d'água.
Com os cálculos, eles quantificaram de que forma a cobertura vegetal contribui para a absorção e, consequentemente, para a erosão e o abastecimento dos lenços freáticos. “O que acontece é que a água da chuva escoa muito rapidamente, vai para o rio, vai embora, e não fica retida para permitir o preenchimento desses reservatórios subterrâneos e, mesmo depois, a contribuição para os rios de uma forma mais lenta, espaçada no tempo, que permita a utilização dessa água para abastecimento público” disse Edson Wendland, pesquisador e professor em hidrogeologia.
Apesar de hoje o Estado de São Paulo ter apenas 10% das áreas originais de cerrado, segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), os pesquisadores reforçam a importância do bioma. “É uma área que numericamente parece pequena, mas se a gente for ver a área do Estado de São Paulo, é uma área relativamente grande e tem capacidade para contribuir muito para a retenção de água”, afirmou Wendland.
E o agrônomo Eric Storani sabe bem disso. Ele é responsável pela revitalização de cinco fazendas, onde foram plantadas 120 mil mudas nos últimos anos para aumentar a área de cerrado. “Em algumas nascentes que já estavam quase secando, a gente percebeu que essa água voltou, cresceu, quer dizer, estamos produzindo água. Quando o produtor preserva, cuida, ele contribui, ele tem água para ele e para todos. É uma lição que tem que ser colocada em prática o mais rápido possível”.
G1