Afetadas pela crise econômica, as famílias paulistanas estão com dificuldades para manter o orçamento em dia e já se veem obrigadas até a escolher, entre as contas de bens essenciais como energia, água e alimentação, quais devem ser priorizadas e pagas no fim do mês. Com isso, a proporção de consumidores endividados na capital paulista atingiu em junho 54%, ante 49,6% no mesmo mês do ano passado. Já no comparativo mensal houve uma leve queda de 1,1 ponto porcentual (55,1% em maio).
Os dados são da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) realizada mensalmente pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).
De acordo com a assessoria econômica da Federação, o aumento dos preços de bens essenciais e a piora do mercado de trabalho influenciam diretamente o orçamento do consumidor e consequentemente o seu poder de compra. Em conjunto, a dificuldade de obter crédito pelos bancos - que estão mais seletivos e exigentes para evitar a inadimplência - faz com que muitos optem por empréstimos mais caros como o cheque especial e o cartão de crédito.
Em números absolutos, o total de famílias endividadas passou de 1,974 milhão no mês de maio para 1,936 milhão no mês de junho. No comparativo anual o número era de 1,777 milhão, o que corresponde a um acréscimo de 159 mil.
Após quatro meses de altas consecutivas, o endividamento entre famílias com rendas de mais de dez salários mínimos cedeu e atingiu 41,5% em junho, ante 45,2% em maio (queda de 3,7 pontos porcentuais). Já para famílias que ganham até dez salários mínimos, o índice se manteve praticamente estável na comparação mensal, ao passar de 58,5% para 58,3% (queda de 0,2 p.p), mas subiu 4,6 p.p. ante junho do ano passado.
Em relação às famílias com renda comprometida com pagamento de dívidas, 50,7% têm entre 11% e 50% do orçamento comprometido. Já 24,9% informaram que o comprometimento com o pagamento de dívidas é menor do que 10%, enquanto para 20,3% dos entrevistados é superior a 50%.
Baixa renda acumula mais contas em atraso
Na comparação anual, o maior crescimento de contas em atrasos ocorreu entre as famílias que ganham até dez salários mínimos (16,9% em junho de 2014 para 18,6% em junho deste ano), enquanto para as que recebem mais de dez salários mínimos o valor subiu de 6% para 7% no mesmo período. Com isso, a proporção total de famílias com contas em atraso subiu de 13,6% para 15,2%. Dentre estas famílias, 49,6% delas têm contas vencidas com prazo superior a 90 dias e 22,9% apresentam dívidas atrasadas entre 30 e 90 dias, enquanto 26,1% estão com pendências por até 30 dias.
Segundo a FecomercioSP, o crescimento da proporção de famílias que alegaram que não têm condições de pagar as dívidas foi alarmante: 220 mil em junho de 2015, o que corresponde a 6,1% dos paulistanos, contra 4,4% no mesmo mês do ano passado. Essa alta representa o maior valor desde outubro de 2013.
Tipos de dívidas
O cartão de crédito permanece o principal motivo das dívidas de 70,9% das famílias - a maior marca desde dezembro de 2013. Em seguida estão: financiamento de carro (17,5%); carnês (14,2%); crédito pessoal (12,3%); financiamento de casa (11,7%) e cheque especial (7,8%).
Para a Entidade, apesar da pequena queda no comparativo mensal, a tendência é de alta no endividamento e na inadimplência, especialmente entre a população de menor renda. Se até 2013 o aumento do endividamento acompanhou a expansão do consumo, especialmente de bens duráveis, atualmente a dificuldade de fechar as contas no final do mês pode explicar o cenário.
A Federação ressalta que as famílias com menor renda sentem mais os efeitos da inflação e da alta de juros. Para esta faixa da população, além de qualquer imprevisto desequilibrar as finanças, o crédito representa um importante meio de inclusão nos padrões de consumo.
Fecomércio