Empresários da navegação fluvial estão preocupados com os possíveis efeitos das mudanças climáticas no transporte hidroviário no Brasil. Em São Paulo, a estiagem prolongada é apontada como uma das responsáveis pelo fechamento da hidrovia Tietê-Paraná, há mais de um ano.
Levantamentos feitos pelo Sindasp (Sindicato dos Armadores da Navegação Fluvial de São Paulo) e pela Aprosoja-MT (Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso) estimam que o fechamento da hidrovia tenha sido responsável por um prejuízo de pelo menos R$ 685 milhões e pela demissão de 1.400 trabalhadores.
A perda é das empresas de transporte e dos produtores rurais. Na região Norte, o prejuízo ainda não foi calculado. O Brasil tem 27,4 mil quilômetros de rios navegáveis.
Segundo o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) da ONU, as mudanças climáticas observadas por cientistas do mundo todo são alterações provocadas pela ação do homem. Elas seriam causadas pelo aumento dos níveis de gases do efeito estufa na atmosfera como a queima de combustíveis fósseis. Essas emissões que causariam um aumento da temperatura do planeta.
Entre as principais consequências desse fenômeno, estariam a maior ocorrência dos chamados "eventos climáticos extremos" como períodos de seca e cheia prolongadas. Um estudo ainda não publicado realizado pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), mas que foi apresentado em julho deste ano, indica quesecas como a observada em São Paulo nos últimos dois anos tendem a ser mais recorrentes, o que poderia ter efeito sobre as condições de navegação nos rios da região.
A hidrovia Tietê-Paraná tem 2.400 quilômetros e é formada pelos rios Tietê e Paraná e pelos lagos artificiais criados por barragens de usinas hidrelétricas entre os Estados de São Paulo e Goiás. Ela é uma das principais vias de escoamento da produção de grãos do Brasil.
Em 2013, 6,2 milhões de toneladas foram transportadas pela hidrovia. Esse número caiu para 4,1 milhões em 2014, uma queda de 34%.
No sentido oposto, a produção agrícola do país no mesmo período subiu 2,4%. Entre 2013 e 2014, a safra de grãos, leguminosas e oleaginosas cresceu de 188,2 milhões para 192,8 milhões de toneladas, segundo o IBGE.
A redução no volume de cargas transportadas pela hidrovia é atribuída à interrupção da navegação, em vigor desde maio de 2014, feita pela Marinha. Segundo a Capitania Fluvial do Tietê-Paraná, esta é a primeira vez que a navegação na hidrovia é interrompida.
Segundo a Secretaria de Transportes de São Paulo, a interrupção do tráfego na hidrovia Tietê-Paraná fez com que o transporte que seria feito por ela tivesse de ser feito por rodovias, o que acarretou num aumento de 100 mil viagens de caminhão desde maio do ano passado.
O prejuízo de R$ 685 milhões causado pela paralisação da navegação na hidrovia é dividido em duas partes. Desse total, R$ 300 milhões são o resultado das perdas das empresas de transporte que operam na Tietê-Paraná, segundo o Sindasp.
O restante, R$ 385 milhões, é o prejuízo causado a produtores de soja do Estado de Mato Grosso, principal produtor brasileiro do grão, por conta do aumento nos custos do frete. Especialistas no setor de transporte afirmam que o custo do transporte hidroviário é, em média, 70% mais barato que o transporte por rodovia.
"O aumento fica nas costas do produtor porque ele acaba tendo que pagar pelo transporte da carga em caminhão, que é mais caro", diz Edeon Vaz, presidente da Câmara Temática de Infraestrutura e Logística do Agronegócio, órgão vinculado ao Ministério da Agricultura.
Vaz também é coordenador executivo do Movimento Pró-Logística, que integra entidades ligadas ao agronegócio de Mato Grosso.
Para o presidente do Sindasp, Edson Palmesan, os empresários do setor estão preocupados com os efeitos das mudanças climáticas no longo prazo. "Eles estão aflitos porque a gente não sabe os impactos que isso vai ter no negócio. Neste ano, tanto as empresas de transporte quanto alguns estaleiros do interior de São Paulo já demitiram 1.400 pessoas. O que vai acontecer se a estiagem se prolongar? Vamos ter que repensar todo o nosso negócio", afirmou.
"O nosso medo é de que, como o regime de chuvas está instável, se não chover o suficiente para encher os reservatórios, a gente não vai conseguir escoar a produção de grãos de 2016. Aí, o prejuízo vai ser ainda maior", diz Edson Palmesan.
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