Muito associada a idosos, a demência também acomete adultos jovens. Nessa fase da vida, uma das principais causas do problema é a doença vascular — sozinha ou combinada com o Alzheimer. É o que confirma um estudo inédito feito pelo Biobanco da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) já submetido para publicação em revista científica e que está em processo de revisão por pares.
Para chegar ao resultado, os cientistas analisaram o cérebro de 275 indivíduos com menos de 65 anos. Em 10% dos casos, foi identificada a chamada demência vascular, que ocorre por danos causados pela falta de circulação do sangue. “Lesões no cérebro provocadas pela doença dos vasos cerebrais são tão frequentes quanto as lesões da doença de Alzheimer”, afirma Roberta Diehl Rodriguez, neurologista e pesquisadora do grupo de neurologia cognitiva e do comportamento do Biobanco da FMUSP.
“Estudos recentes mostram que a presença de mais de um tipo de lesão no cérebro de pacientes jovens com demência é mais frequente do que se imaginava”, continua ela. A presença das lesões não significa obrigatoriamente a manifestação dos sintomas de demência. “A amostra estudada tinha indivíduos sem alterações cognitivas e com alterações. Os pacientes podem ter as alterações no encéfalo sem apresentarem sintomas.”
Um estudo anterior, publicado no Journal of Alzheimer's Disease no início do ano, já havia mostrado que pacientes com menos de 60 anos de idade também tinham o risco de desenvolver mais de uma doença neurodegenerativa em conjunto com o Alzheimer.
Os primeiros sintomas de demência vascular podem aparecer depois de um AVC (acidente vascular cerebral) ou em decorrência de isquemias menores ao longo dos anos. Entre os fatores de risco observados estão hipertensão, diabetes, tabagismo e abuso de álcool.
Sintomas mais comuns da demência vascular
- Prejuízos na memória, com esquecimento de atividades básicas, como cozinhar
- Perda de força
- Alterações no funcionamento cognitivo
Nem toda demência é Alzheimer
Embora considerado o tipo mais comum de demência, o Alzheimer é apenas uma entre várias classificações da condição. Ela é caracterizada por um processo degenerativo que provoca lesão e morte de neurônios em regiões responsáveis pelo aprendizado e memória. “O Alzheimer responde por mais de 60% dos casos de demência. A piora dos sintomas ocorre de forma lenta e progressiva com o decorrer do tempo”, explica Rodriguez.
Muitas vezes, os primeiros sinais são ignorados e a doença passa despercebida pelo paciente e por seus familiares. “Ao mesmo tempo que os parentes acham que esquecimentos são normais por causa da idade quando a pessoa é muito nova, acreditam que é cedo para ter Alzheimer e atribuem a outros fatores, como estresse”, observa Rodrigo Shultz, neurologista do Hospital Israelita Albert Einstein e presidente da ABRAz (Associação Brasileira de Alzheimer). O diagnóstico tardio, portanto, é comum.
Existe ainda a demência frontotemporal, que pertence a um conjunto chamado degeneração lobarfrontotemporal. “Ela integra um grupo com várias doenças. Entre elas, a afasia progressiva primária”, explica Shultz.
Há também a Demência de Corpos de Lewy, uma das doenças mais degenerativas do mundo e que acomete mais os homens. Ao contrário do Alzheimer, ocorre de forma rápida e é acompanhada de sintomas associados ao Parkinson e alucinações.
(Fonte: Agência Einstein)