Ibitinga, Quinta, 25 de Abril de 2024
UMA FACADA NA ONU

  O Presidente Jair Bolsonaro (PSL), fez no dia 24/09 a abertura da 74ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (0NU), em Nova York. O Brasil, por tradição, é o país que faz a abertura da Assembleia, desde 1947, por razões das mais diversas. Alguns dizem que foi porque o Brasil foi o primeiro país a se tornar membro das Nações Unidas, mas isso, não é verdade. A ONU foi fundada por 50 países, em 1945, quando foi divulgada sua Carta (Carta de São Francisco), uma espécie de Constituição. Claro que o Brasil estava entre os fundadores.

   Outros acabam por dizer, que essa tradição tem outra origem. Começou na segunda Assembleia Geral da história. Quem fez o discurso inaugural, na época, foi o ministro da Relações Exteriores do Brasil, Oswaldo Aranha. 

   Oswaldo Aranha - Osvaldo Euclides de Sousa Aranha, era gaúcho, foi político, diplomata e grande advogado, que acabou por ganhar destaque internacional em 1930, no Governo do conterrâneo Getúlio Vargas. Aranha é conhecido na política internacional por fazer lobby pela criação do Estado de Israel (14/05/1948), como chefe da delegação brasileira na ONU e presidente da Assembleia Especial, em 1947, durante a votação da UNGA (United Nations Resolution) – Resolução 181 sobre o plano de partição das Nações Unidas para a Palestina, no qual ele adiou a votação por três dias para garantir sua aprovação. 

   É por isso que, depois do estabelecimento da tradição da ordem dos discursos, a partir de 1955, o Brasil não falou primeiro somente em duas oportunidades: nos anos de 1983 e 1984, o então presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, discursou antes do representante do Brasil, o então ministro das Relações Exteriores do governo João Figueiredo, Ramiro Saraiva Guerreiro.

   Não se sabe ao certo o porquê do nosso país ser o escolhido para sempre inaugurar o evento mais importante da ONU. Uns dizem que foi para evitar as tensões entre Estados Unidos e União Soviética, que começavam a se estranhar na famosa Guerra Fria. O Brasil era um país considerado neutro. Outra teoria alega que essa foi uma compensação para o fato de nosso país ter ficado de fora do Conselho de Segurança, um posto que o Itamaraty (o ministério das Relações Exteriores) ainda quer.

    Fato é que esse privilégio não é uma regra escrita. Nenhum texto ou norma da ONU determina que os brasileiros sempre façam o discurso inaugural da assembleia (AGNU). Mas esse costume se mantém. A primeira mulher a fazer o discurso inicial da Assembleia Geral, em 2011, foi a ex-presidente Dilma Rousseff.

    Depois da redemocratização Sarney usou da tribuna (embora não tenha sido eleito, pelo voto direito). Fernando Collor, em duas oportunidades. Itamar Franco, nunca. Fernando Henrique Cardoso, uma única vez. Lula da Silva, seis vezes. Dilma Rousseff, cinco vezes e Michel Temer – “O Breve”, três vezes. Cada um a seu tempo, com os temas que entendiam ser relevantes para o Brasil, naquele momento histórico.

   Fernando Collor de Mello, como primeiro presidente eleito após a redemocratização, assumiu a missão de passar a imagem de um Brasil comprometido a se adequar às exigências internacionais em direitos humanos e de não-proliferação de armas nucleares. O discurso dele nas Nações Unidas em 1991 reforçou a tentativa de mostrar que o país estava em busca das credenciais necessárias para assumir maior protagonismo em organismos internacionais, como no Conselho de Segurança da ONU.

   Fernando Henrique Cardoso, fez veemente condenação aos ataques de 11 de setembro de 2001, usando da tribuna no dia 23 de setembro daquele ano. Condenou a “a violência sem sentido resultante de um ataque odioso e traiçoeiro contra os EUA e contra todos os povos amantes da paz e da liberdade”. Ele também reconheceu o direito americano à defesa, mas alertou que terrorismo não seria detido por meio de uma caçada internacional que ocorresse à margem do direito internacional. A “luta contra o terrorismo não é e nunca deve ser um choque entre civilizações, muito menos entre religiões”.

   Lula da Silva, destacou que o Brasil começou a orquestrar, em termos mais práticos, o pleito por ampliar sua participação em organismos internacionais, como no Conselho de Segurança da ONU e na Organização Mundial do Comércio (OMC). Lula teve outras participações onde falou da crise financeira internacional de 2008 a 2009, criticando o modelo norte americano de interferência mínima na economia. Tentou vender o modelo brasileiro de lidar com turbulências, como se vivêssemos num paraíso, que em verdade, estava carcomido pela corrupção, segundo os tribunais, até aqui.

   Os discursos de Dilma Rousseff foram de continuidade à política do ex-presidente Lula, mas com menor abrangência e fôlego, já que a petista dedicou pouco tempo à política externa durante os seus quase seis anos de governo. Houve uma continuidade por inércia. Uma manutenção da tendência, mas com perda de fôlego, porque, na prática, não foram dados impulsos em nenhum canal de política externa defendido pelo governo. Mas o discurso de 2013 de Dilma na ONU chamou a atenção por uma questão recém revelada na época. Na ocasião, havia sido divulgada a notícia de que o governo americano espionou correspondências do governo brasileiro.

   Ao abrir a Assembleia Geral, a então presidente disse que as ações de espionagem dos Estados Unidos no Brasil "ferem" o direito internacional e "afrontam" os princípios que regem a relação entre os países.

   Quando discursou pela primeira vez na Assembleia Geral da ONU, em 2016, Michel Temer havia acabado de assumir a Presidência em razão do impeachment de Dilma Rousseff. No ano seguinte, em 2017, o Brasil começou a ser alvo de críticas internacionais após a divulgação de que, em 2016, houve um aumento de 58% no desmatamento na Amazônia. Temer, então, dedicou seu discurso na ONU, para dizer que o governo brasileiro havia tomado providências para proteger a floresta (a mesma floresta que foi a tônica do discurso de Bolsonaro).

   Bolsonaro segundo analistas internacionais, deixou de ser grande, como era de se esperar, nesse momento histórico que vive o Brasil. A discussão do Meio Ambiente, sustentável e o desenvolvimento econômico, especialmente no setor agrícola, uma das molas mestras das nossas exportações.  Fez um discurso agressivo, como que para adular seus mais ferrenhos defensores, ao invés de mostrar um Brasil “diferente”, para as demais Nações e o Mundo. O atual Presidente, ainda se ressente – talvez com razão – da facada que tomou em Juiz de Fora, na campanha eleitoral. Mas não pode ficar esfaqueando organismos internacionais, onde a prudência diplomática, está deixando de ser grande, como fora, desde o Barão do Rio Branco, que é o patrono da diplomacia brasileira e uma das figuras mais importantes da história do Brasil.

    Sobram Bolsonaros e faltam Barões, como Barão Rio Branco, na área internacional.

   A Soberania Nacional é o mínimo que o Comandante-em-Chefe das Forças Armadas do Brasil, pode e deve defender. Disso nenhum brasileiro deve abrir mão. Mas a faca deve ficar guardada.

 

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