Um estudante de letras da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) é o primeiro indígena da instituição a conquistar uma bolsa de iniciação científica pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Em 2010, Luciano Quezo, de 22 anos, deixou a aldeia Umutina, a 180 quilômetros de Cuiabá (MT), para realizar o sonho de cursar letras na UFSCar. Hoje, ele está no terceiro ano e já comemora a conquista da bolsa para o projeto de pesquisa. “Eu acho que é uma forma de incentivo. Uma quebra de paradigma ser o primeiro indígena a ser outorgado por essa bolsa. Eu acho que vai servir como referência para outros”, disse.
Quezo começou a fazer um livro didático bilíngue, em português e em umutina, a língua da aldeia. A ideia é distribuir o material em escolas públicas da tribo. Ele disputou a bolsa com cerca de 3,7 mil estudantes do estado. “É motivo para comemorar. A gente está sempre lutando por transformações. Passa a se enxergar algo de novo dentro da universidade”, disse a orientadora do projeto, Maria Cintra Martins.
Os cursos mais procurados pelos índios são os da área de humanas, como letras e direito, e carreiras da área da saúde, como medicina e fisioterapia. A maioria dos estudantes pretende voltar à terra natal para ajudar a comunidade com o que aprenderam. Nos últimos quatro anos, 85 índios estudaram na universidade e o interesse deles não para de crescer. “O nosso programa é um dos poucos no Brasil onde a gente aceita estudantes em qualquer curso. Nós não temos uma licenciatura ou curso específico para estudantes indígenas. Ele entra aqui e pode escolher qual curso ele quer fazer”, explicou Maria Sílvia Moura, coordenadora do Grupo Gestor de Ações Afirmativas.
Yuri, de 19 anos, é de uma aldeia do parque indígena do Xingu, também no Mato Grosso. Assim que terminar o ensino médio, ele pretende prestar vestibular para direito. “Para ajudar o meu povo”, disse.
De acordo com o indigenista Ulysses Fernandes, a procura por formação é uma forma deles se integrarem com outras culturas. “Porque senão eles ficam vendidos, não tem como sentar numa mesa de negociação. Ele quer estar preparado para entender o que tem do outro lado”, disse.
G1