Uma gravação exclusiva feita pela reportagem do A Cidade traz detalhes a ação das suspeitas no esquema envolvendo o pagamento de dinheiro para garantir o recebimento de casas da CDHU.
Maria Rosa Lopes Ferreira, uma das suspeitas, chegou a confirmar a entrega dos imóveis. "É a quarta vez que ela faz isso. A Marta faz isso e nunca deu problema. Nunca", diz.
Entretanto, a suspeita não fala na quantidade de casas entregues. "Não sei. Eu não posso falar. São várias casas", diz.
Sem saber que a conversa era gravada, Maria Rosa disse concordar com a devolução do dinheiro para algumas das vítimas. Uma mulher identificada como Regiane também confirmou o esquema (veja o que ela diz ao lado).
Na reunião, Marta Aparecida Mobiglia demonstrou preocupação e passou ameaçar uma das vítimas. "Você vai estragar um plantio inteiro, cara. Você vai estragar. E na hora que entregar, esse povo vai cair matando em cima de você. E vai mesmo", diz.
A suspeita afirmava ainda que o dinheiro pago pelas pessoas não permanece com ela. "O dinheiro não fica com a gente, mas com os donos dos porcos."
Ela chegou a propor a devolver o dinheiro para uma das vítimas até a próxima segunda-feira. Entretanto, ligaria antes para avisar sobre o reembolso. "Você está mexendo numa coisa que você não tem noção (sic)".
Mais intimidação
Uma outra suspeita, que não foi detida, também tentou amedrontar as duas vítimas presentes no encontro presenciado ontem pelo A Cidade. "Essas casas serão entregues e vocês vão se arrepender. Só isso eu digo pra vocês, mais nada.Nunca mais vocês vão conseguir nada pela Cohab. Vocês vão à luta, porque se cair o nome de vocês aqui, nós bloqueia."
A mulher garantiu ainda que saberia informar o nome da rua e o número do imóvel. "Você, como se diz, é uma pessoa que está lutando pela sua casa. Conseguiu sua casa e está mandando embora para qualquer outra pessoa que tem uma lista enorme aqui."
Polícia ‘ignora’ suspeita
Uma terceira mulher, identificada como Regiane, que participou da reunião e ameaçou "clientes", foi deixada pelos policiais militares ao levar as outras duas comparsas para o 4º Distrito Policial. Ela tinha uma lista completa de nomes dos possíveis beneficiados.
Na gravação feita pela reportagem, a suspeita chegou a mencionar a listagem. "Esses nomes aqui vão ser guardados dentro de um cofre", dizia no encontro. Os policiais militares disseram que não levaram a terceira suspeita para a delegacia porque as vítimas indicaram apenas a Marta e a Maria Rosa.
Na delegacia, os policiais informaram que para buscá-la caberia uma decisão do delegado. A reportagem não conseguiu contato ontem com o comando da PM para explicar se houve falha dos militares.
Já o delegado Marcelo Veludo Garcia de Lima disse que abre hoje inquérito para investigar o caso. As duas suspeitas detidas foram ouvidas ontem. "Elas, por orientação da advogada, não disseram qualquer palavra", explicou o delegado, sem dar mais detalhes.
CDHU diz que Cohab envia lista de indicados
O diretor regional da CDHU, Milton Leite, disse que, como se trata de projeto de desfavelamento, a companhia recebe a lista de nomes da Cohab que foram cadastrados pelas assistentes sociais da prefeitura. A listagem com os nomes é publicada no Diário Oficial do Município. "Neste empreendimento a CDHU recebe a listagem fechada. Eu acho muito difícil algum tipo de fraude", explicou Leite.
Já o presidente da Cohab em Ribeirão, Silvio Martins, esteve na delegacia e afirmou que vai apurar o caso, principalmente com abertura de sindicância ou inquérito administrativo, para apurar uma possível participação de funcionários no esquema. "Para que a gente não deixe nada, nada e nada sem a perfeita transparência", afirma.
O presidente diz ainda que a Cohab faz apenas o levantamento de mutuários e entrega para a CDHU, conforme acordo do programa desfavelamento. "O que envolve o nome Cohab nós vamos apurar até as últimas consequências", afirmou o diretor.