Durante seis meses do ano, período de estiagem, encontrar milho para fazer pamonha em Piracicaba (SP) é uma tarefa difícil e cara. Nas palavras de uma produtora, o vegetal "some". O reflexo desse sumiço é que o preço das iguarias derivadas do produto chegam a dobrar nas barracas durante as festas de junho e julho; a variação da pamonha chega a oscilar entre R$ 2,50 e R$ 5.
Ocorre que o milho só é produzido em Piracicaba no período das chuvas, durante o seu ciclo natural. Quando este período se encerra, os produtores de pamonha e atacadistas recorrem ao milho de Goiás, onde se produz o vegetal por irrigação durante o ano inteiro.
Sumiço
Geovana Cristina dos Santos é uma das poucas remanescentes da produção de pamonha em Piracicaba, que em décadas passadas chegou a ser vendida até fora do Estado. Ela conta que os meses de junho, julho, agosto e setembro são os mais críticos para a busca da matéria-prima.
"O milho some dos mercados de atacado e nós temos que comprar com produtores de Goiás. O problema é que encarece o preço final. Se normalmente o preço de custo é R$ 1, fora de época ele sobe conforme o evento que faz a encomenda", justificou. Apesar de o negócio ser rentável, ela conta que é difícil planejar crescimento com uma variação tão grande.
Prejuízo do vendedor
Na feira que ocorre aos sábados na rua Santa Cruz, no Centro, a banca de pamonha e outros derivados de milho é uma das mais movimentadas. A pamonha é preparada pelos próprios feirantes e custa R$ 3 durante o ano inteiro.
A atendente Cláudia Alves explicou que não repassa as variações no preço conforme a escassez para não afastar a clientela, mas produz uma quantidade menor de pamonha para não sair no prejuízo.
Ameaça à tradição
A pamonha já foi a principal iguaria local e ajudou a divulgar o nome de Piracicaba em todo o país. No entanto, a tradição vem se perdendo em função da dificuldade de encontrar a matéria-prima durante o ano inteiro.
O problema impediu, por exemplo, que o produto fosse vendido na prateleira de qualquer supermercado ou loja de conveniência da cidade. Em 2010, o Centro Rural de Tanquinho investiu R$ 1 milhão para construir uma fábrica de processamento de milho e produção de até duas toneladas diárias de pamonha. Sem possibilidade de tocar o projeto, o local fica parado na maior parte do ano.
O presidente do centro José Albertino Bendassolli explicou que o prejuízo não foi maior porque o distrito realiza, uma vez por ano, a Festa do Milho, que comemora o fim da colheita. "Hoje as máquinas ajudam na festa, mas para o resto do ano nós não temos fornecedores e só fazemos eventos esporádicos", disse.
Baixa produção
Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a produção de milho na microrregião de Piracicaba em 2010 foi de 17 mil toneladas; dessas, 9 mil são da própria cidade. Enquanto isso, o Estado de São Paulo produziu 4 milhões de toneladas.
G1