Muito, mas muito dificilmente um fã de Legião Urbana sairá do cinema reclamando que foi tempo perdido. “Somos Tão Jovens”, o filme, vem recebendo alguns elogios antes mesmo de sua estreia, hoje.
Isso porque o longa de Antonio Carlos da Fontoura parece ter acertado em cheio na escolha do protagonista aí na foto ao lado - ator Thiago Mendonça, 32, curiosamente o mesmo que viveu o sertanejo Luciano em “Dois Filhos de Francisco” (2005).
Thiago “pegou” o jeito de ser de Renato Russo – o líder da Legião, morto em 1996, aos 36 anos, em decorrência de complicações causadas pela Aids. E Thiago canta de verdade, dispensando playback.
Para não fazer feio, treinou por meses em estúdio com Carlos Trilha – o mesmo que produziu álbuns da carreira solo de Renato.
O site do filme (www.somostaojovens.com.br) também fez sua parte e caprichou na interação com os internautas. E, de novo em sintonia fina com os fãs, deixa claro que a produção trata Renato como um “mito” – e isso, por si só, já revela muita coisa.
Turbilhão
O roteiro de Marcos Bernstein (coautor do roteiro do sucesso ‘Central do Brasil’) – e diretor de “Meu Pé de Laranja Lima” - leva em conta, é claro, a cena roqueira de Brasília para uma trama passada entre o fim da década de 1970 e os anos 80. Saudosistas vão adorar. Iniciados vão conhecer – e com algum realismo.
Performance que também promete agradar é a de Laila Zaid como Ana – meio amiga, meio amor de Renato.
Sexualidade? Homossexualidade? São abordadas com foco em um Renato juvenil, angustiado, confuso, talentoso, autêntico e polêmico desde sempre. Um turbilhão emocional antes do estrelato – como no filme “O garoto de Liverpool” (2009), que retrata a infância e a adolescência de John Lennon. Mas isso já é outra história.
‘Do rock nacional, todos tiveram influências dele’
1993: um ano antes do lançamento do disco “O Descobrimento do Brasil”, de Legião Urbana; e três anos antes da morte de Renato Russo. Em Bauru, nesta época, um grupo de jovens músicos, tendo como referências Renato Russo e outros ídolos do rock nacional, formavam uma banda cover... de Legião.
Carlos André Rodrigues, o Turco, era garoto e começava sua carreira. Hoje, com 38 anos, relembra a importância que Legião e Renato tiveram em sua trajetória. “Todos que cantavam rock nacional tinham influências de Renato, Raul Seixas e Cazuza”, resume.
Ele observa que Legião quase não fazia shows. “Em contrapartida, era uma banda que a gente ouvia muito na rádio. Quando saía um disco, podia esperar que iria tocar direto umas cinco músicas”.
E acrescenta: “Todos comentavam: ‘Ah, eu queria cantar ou escrever como o Renato’. Eu acho que o Renato conseguia unir todas as coisas, e tinha uma atitude rock’n’roll. Apesar da melodia do Legião, é uma banda de rock”, aponta.
E hoje, como é?
“Hoje as músicas continuam aí. O que eu acho curioso é que as músicas não têm aquele refrão marcante, mas as pessoas sabem cantá-las com letras enormes e inteiras”, diz Turco - que, em 2000, fez show de tributo a Renato Russo para 3 mil pessoas no Sesc Bauru.
Sobre o filme? “Espero que não abusem daquela imagem batida, que enfatiza o uso de drogas, o homossexualismo etc.”, pontua Turco.