Ibitinga, Segunda, 25 de Novembro de 2024
1º clone de equino no país tem DNA de garanhão que teve 1.648 filhotes

O primeiro clone de equino no Brasil carrega o material genético do Mangalarga Turbante, que viveu numa fazenda em São José do Rio Pardo (SP) e é considerado o maior garanhão do século passado: ele teve 1.648 filhotes. Turbantinho nasceu há 10 semanas em um laboratório de Mogi Guaçu, na região de Campinas (SP).

O Mangalarga mais famoso da raça fica em uma baia isolada, onde poucos podem entrar. Autorização para fotos ou gravação nem pensar. Só a mãe, uma égua sem nome e nem raça definida, que serviu de "barriga de aluguel", pode receber visita. Com Turbantinho, o cuidado é tanto que sempre tem um veterinário por perto, 24 horas por dia.

Tiago Rodrigues Bueno é um deles e passa a noite ao lado do potrinho. “Tomamos conta para que não tenha barulho, para que não estresse os animais. O Turbante era filho do seo José Oswaldo Junqueira, um dos grandes nomes do Mangalarga. Hoje, o Turbante é filho do Brasil”, falou Tiago.

Tantos cuidados tem um motivo: o Turbante original foi o maior garanhão Mangalarga do século passado. Entrou para o livro dos recordes como o maior reprodutor. O semem chegou a ser vendido por US$ 10 mil dólares a dose, mais de R$ 21 mil. José Oswaldo Junqueira tinha tanto orgulho, que ergueu uma estátua do cavalo na fazenda em Rio Pardo.

Na época, o fazendeiro chegou a recusar uma proposta de US$ 1 milhão pelo Mangalarga. O cavalo morreu em 1998 e como o neto do fazendeiro era um veterinário visionário, antes de o Turbante morrer, ele e a equipe coletaram um pedaço de pele do animal e congelaram. Ele acreditava que um dia a ciência pudesse criar um novo Turbante.

“A gente tem que pensar no futuro e no que o povo do futuro vai estar pensando”, falou o veterinário João Junqueira Fleury, em entrevista concedida em fevereiro de 1998. E a veterinária Perla Fleury, completou em fevereiro de 2003: “A gente tem um material guardado pra quando a técnica estiver aí poder, de repente, clonar o turbante”.

Quatorze anos depois a ciência torna realidade o sonho do fazendeiro. A técnica foi desenvolvida em um laboratório de Mogi Guaçú. Os pesquisadores colheram um óvulo de uma égua e retiraram o DNA. Depois, o material genético do Turbante, que estava no tecido do cavalo, foi fundido ao núcleo do óvulo da doadora por meio de uma corrente elétrica. O óvulo foi fertilizado com uma nova informação genética. Em seguida os pesquisadores fizeram a inseminação em outra égua, que apenas gerou o animal, sem transmitir o DNA.

“Depois que você mostra que a técnica dá certo, que é possível fazer, todas as pessoas que têm um animal de valor, de estimação ou que precisse ser perpetuado, vão ter interesse em fazer”, observou a veterinária Andrea Basso.

Nascimento
Perla é sócia da empresa de clonagem. O marido dela era o jovem veterinário que sonhava com a clonagem. Ele e o avô morreram antes da técnica ser aplicada, mas Perla acompanhou de perto o nascimento. “O Turbante que nasceu agora no dia 10 de setembro é uma cópia idêntica do Turbante que nasceu em 1969”, garantiu.

O Brasil foi o terceiro país do mundo a realizar uma clonagem de equino. E o sucesso da experiência veio em dose dupla. Utilizando a mesma técnica, outro animal da família também foi clonado. A potrinha Cascata é uma cópia idêntica de uma égua que era neta do Turbante original. Na época, a diferença de idade entre avô e neta era de 24 anos. Com a clonagem, as duas gerações voltam a se encontrar, só que com uma diferença de idade bem menor. A Cascata nasceu apenas 24 horas depois do avô.

Hoje, ele e a neta vivem lado a lado, são da mesma geração. E o Turbante está de volta para reforçar a fama e corrigir o único defeito que o antigo dono encontrou no cavalo.“O seu José disse que o único defeito do Turbante era não ser eterno, e nós ficamos muito felizes porque se existia esse defeito, hoje nós conseguimos eternizar o Turbante, então, de certa forma, isso deixou de ser um defeito", comemorou Perla.

 

G1

 

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