Na última quarta-feira, dia 19, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), órgão vinculado ao Ministério da Justiça, que tem como missão zelar pela livre concorrência no mercado, aprovou, mas com algumas restrições, a formação do Conselho dos Produtores de Laranja e da Indústria de Suco de Laranja (Consecitrus).
O relator Ricardo Ruiz sujeitou a aprovação final do conselho a alguns fatores, entre eles, a definição da representatividade dos participantes, a criação de uma estrutura formal, a reestruturação do estatuto e a implantação dividida em fases. Todos os conselheiros acompanharam o voto do relator.
O parecer do CADE foi favorável a que tenham direito de voto no Consecitrus a Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), representando a indústria e a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (FAESP), a Associação Brasileira de Citricultores (Associtrus) e a Sociedade Rural Brasileira (SRB), representando os produtores. Cada lado terá direito a 50% dos votos, sendo nove cadeiras da indústria e nove de produtores. O relator decidiu ainda que a CitrusBR e SRB devem modificar o estatuto proposto em 2012. Um conselho de transição terá 90 dias para fazer isso, logo depois, o CADE deve avaliar o estatuto.
O presidente do Sindicato Rural de Barretos e coordenador Comissão da Citricultura da FAESP, Cyro Pena, explica que, desta forma, a tomada de decisões exigirá que 14 dos 18 participantes do conselho deliberativo concordem nos assuntos discutidos, caso contrário, eles deverão voltar a ser debatidos em Assembleia. Um dos principais pontos a serem tratados no Consecitrus é a verticalização. “Atualmente a indústria planta laranja e compra principalmente dos grandes produtores. Acaba sobrando muito pouco espaço para os pequenos e médios citricultores que dependem da atividade. O Consecitrus precisa estabelecer regras principalmente nessa área”, afirma Pena.
Segundo o presidente do Sindicato Rural de Ibitinga e Tabatinga, Frauzo Ruiz Sanches, a aprovação da forma como ocorreu foi um passo importante, mas não significa que a partir deste momento os preços serão definidos para a caixa de laranja. “Com a apresentação do voto na quarta-feira foi estabelecido prazo de um ano para que o Conselho reestruture o estatuto e o funcionamento passando ao final pela aprovação do CADE. Acreditamos que a representação dos produtores incluindo a Sociedade Rural Brasileira (SBR) é um grande equivoco do CADE, pois a SRB além de não ter representatividade nenhuma no setor citrícola teve durante todo esse processo a CitrusBr como entidade associada, o que compromete sua legitimidade como representante dos produtores. Equilibrando esse equivoco do CADE, o conselheiro estabeleceu votação com quórum qualificado (75%). Essa colocação determina que qualquer aprovação estará limitada por acordo entre pelo menos três das quatro entidades. Grande passo foi dado, entretanto, este ano será fundamental para a definição e formalização do conselho. Estaremos atentos e participando de todo o processo para que o estabelecimento do Consecitrus busque realmente reequilibrar as relações comerciais entre indústrias e produtores”, finaliza Sanches.
ETAPAS
O Consecitrus será criado em cinco fases, com duração total de dois anos e meio. Somente após esse período e a aprovação pelo CADE, atestando o devido cumprimento de todas as etapas, o conselho estará aprovado de forma definitiva. A constituição se dará do seguinte modo:
FAESP
O presidente da Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (FAESP), Fábio Meirelles, considerou que a aprovação do Consecitrus pelo CADE evita a cartelização no setor. 'Temos de cumprimentar o CADE pela atitude corajosa, posição justa que evita a cartelização do setor', disse, numa referência às condições impostas pelo órgão antitruste para aprovar o Consecitrus. Considerou ainda que as normas previstas, como a participação paritária de entidades de produtores e da indústria, a reformulação do estatuto e a necessidade de prestação de contas ao CADE 'são imprescindíveis e foram muito bem encaminhadas pelo relator', o conselheiro Ricardo Ruiz.
ASSOCITRUS
O presidente da Associação Brasileira de Citricultores (Associtrus), Flávio Viegas, disse que a decisão permite ações de produtores de laranja para diminuir assimetria do setor. 'Houve a compreensão clara do que acontece no setor, e foram criadas condições que nos permitem organizarmos e trabalharmos juntos para diminuir a assimetria do setor'. Mas alertou que a demora para a efetivação do Consecitrus, que demandará até dois anos, pode prejudicar uma parcela de citricultores que não aguentará esse período sem deixar a cultura.
EDINHO ARAÚJO
Para o deputado Edinho Araújo (PMDB-SP), que esteve ao lado das principais lideranças citrícolas durante o processo, a esperança é que o Consecitrus traga mais equilíbrio nas negociações. “Nas últimas safras a indústria teve um poder de barganha desproporcional e impôs as regras de comercialização, o volume da fruta adquirido e o preço final da caixa da laranja. O ideal é que haja uma relação mais equilibrada e duradoura entre produtores e indústrias, e que o governo continue analisando a proposta de inclusão da laranja na Política de Garantia de Preços Mínimos”, afirma.