As altas temperaturas e a escassez de chuvas nos primeiros meses do ano preocupam os cafeicultores da região de Franca (SP), que já calculam os prejuízos da safra 2014/2015. Em dezembro, a Secretaria da Agricultura e Abastecimento de São Paulo estimava que seriam colhidas 4,4 milhões de sacas de 60 quilos de café em todo o estado. A mudança no clima, entretanto, fez com que a expectativa fosse reduzida entre 10% e 20%.
Em alguns casos, a situação é ainda pior, como na propriedade de José Ricardo Cunha, em Ribeirão Corrente (SP): dos 200 hectares de café plantados, ele esperava colher 12 mil sacas do grão, mas a estiagem fez a previsão ser reduzida para 8,5 mil. “Por enquanto, não tem como fazer nada. É uma experiência que a gente nunca viveu”, diz o produtor, que é a terceira geração da família na cafeicultura.
O problema é que o clima quente e seco fez com que os grãos não se desenvolvessem como deveriam, conforme explica o engenheiro agrônomo Fabrício Andrian Davi. Segundo ele, o calor também contribuiu para prejudicar o desenvolvimento da planta e a maturação do café. “A temperatura foi a maior vilã da história porque provocou a paralisação da fotossíntese, então a planta para de mandar nutrientes para o grão. O grão dessa safra vai ter um tamanho menor e vai ser de baixíssima qualidade.”
Café mais caro
O medo de faltar produto fez com que o preço do café, que estava baixo há pelo menos dois anos, desse um salto no mercado internacional. A cotação média está em torno de R$ 430, quase 53% acima do valor praticado em março do ano passado.
“O momento é de grande incerteza tanto para compradores, torradores e produtores. Ainda não sabemos o prejuízo e o estrago que essa seca vai provocar. Nós estamos em campo avaliando o tamanho desse dano”, explicou o coordenador do Conselho Nacional do Café, Maurício Miarelli.
Além disso, apesar de ainda não haver dados oficiais em relação às perdas, os produtores já falam em quebra da safra 2015/2016. Isso porque, segundo Miarelli, a falta de umidade está debilitando as plantas e prejudicando a produtividade dos cafezais.
“O Brasil pode ter uma quebra de safra muito grande em dois anos consecutivos e quem poderá substituir nosso país na oferta de um volume tão grande de café? Essa é a grande incerteza que o mercado está vivendo nesse momento.”
G1