Oferecendo a vantagem de um maior controle sobre o ex-cesso ou falta de chuva e a incidência de pragas, o cultivo em ambiente protegido é uma alternativa de produção em expansão na região. De acordo com o técnico agrícola do Sindicato Rural (SR), Valdecir Vasconcelos, a falta de tradição da região no segmento não está impedindo sua evolução.
Segundo o técnico, a chance de perda da produção do tomate cultivado em ambiente aberto, por falta de chuva ou qualquer intempérie, por exemplo, é grande. Já no ambiente protegido a certeza da colheita é maior. Isso sem contar a possibilidade de aumento da produtividade em até 20 vezes mais por metro quadrado. O produtor de hortaliças de Tabatinga, Valdecir Vieira, é um exemplo. “Plantei tomate em ambiente protegido e aberto e, neste último, notei a presença de lagartas. A principal vantagem do cultivo protegido é essa: o controle de pragas, doenças e clima. Por isso, aconselho os produtores a implantarem o sistema. Eu fiz o meu por financiamento, no começo gastei muito, mas depois tudo se torna viável e a manutenção da estufa é muito barata”, afirma.
Em Tabatinga 100 produtores já aderiram ao cultivo protegido, um número expressivo comparado ao de Ibitinga, que segundo o presidente da Associação dos Produtores Rurais de Ibitinga (APRIB), João Minzoni, gira em torno de 15. Desde 2009 Minzoni investe no cultivo protegido de pimentão e tomate. “As vantagens desse cultivo são as variedades receberem poucos defensivos agrícolas, o ambiente ser melhor protegido contra doenças e pragas e a temperatura poder ser controlada por nebulização. A qualidade do produto melhora 70%, mas tudo isso tem um custo muito elevado, por isso, quem vive só da estufa pode acabar se endividando”, alerta. Segundo ele, a APRIB está criando um projeto de apoio ao cultivo protegido na cidade.
O produtor de hortaliças, Jorge Lopes, não aconselha o investimento para quem não possui economias. “Fiz projeto com uma empresa de São Carlos e não está sendo mais viável. No primeiro ano as coisas foram bem, mas depois ficou difícil manter o alto investimento. As estufas ajudam sim, mas tem o problema de nematoides. Eu investi muito e me endividei”, conta.
Laís Palanca, produtora de legumes, vê vantagens e desvantagens. “Investi por conta própria, sem ajuda do governo, e acho um custo muito alto. No meu caso, toda época de vento forte tomo prejuízo porque a estufa cai e quebra. Por outro lado, me ajuda muito em época de chuva. Além disso, notei melhoria na qualidade dos produtos”, afirma.
Como toda atividade, o cultivo protegido tem suas especificidades e requer do produtor aprendizado. Muitos fatores precisam ser considerados, desde a implantação da es-tufa, como a localização (em função de proximidade com água e posição dos ventos), o material (filmes aditivados, plásticos ou telados), a técnica (solo ou hidroponia), entre outros. O ideal para quem quer investir no segmento é buscar informação detalhada, realizar treinamentos e elaborar um bom plano de negócio.
De acordo com o técnico agrícola do SR, embora o investimento inicial varie de médio a alto, a atividade proporciona que numa pequena área o rendimento seja, muitas vezes, superior ao da área total, o que tem chamado atenção do produtor. “Uma estufa de 1000 m², instalada em uma propriedade de 10 alqueires, por exemplo, pode proporcionar uma rentabilidade maior que a da propriedade total. É, portanto, uma boa alternativa para nossa região, que tem muitos pequenos produtores”, explica Vasconcelos.
Segundo dados do Comitê Brasileiro de Desenvolvimento e Aplicação de Plásticos na Agricultura (Coblapa), estima-se que a Produção em Ambiente Protegido, no Brasil, ocupa cerca de 26 mil hectares. São Paulo, de acordo com dados do Lupa, estudo realizado pela CATI (2011), detém mais de 50% da área nacional de cultivo em ambiente protegido, com mais de cinco mil Unidades de Produção Agropecuária desenvolvendo essa atividade em uma área de 14,4 mil hectares.
Linhas de crédito
Os produtores interessados em investir neste segmento podem utilizar recursos disponibilizados pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, para facilitar a aquisição de estufas agrícolas ou outros sistemas de produção em ambiente protegido.
Tanto as linhas de financiamento do Feap (Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista) quanto do PRO-NAF (Programa Nacional de Desenvolvimento da Agricultura Familiar), voltadas para o agricultor familiar, oferecem prazo de oito a 10 anos para pagamento com baixas taxas de juros. O FEAP têm juros de 3% ao ano, com bônus de adimplência, que pode baixar ainda mais os juros para produtor.
“Além do longo prazo para pagar, o financiamento tem ainda a vantagem de a estufa ser assegurada. Temos vários casos de ventos que destroem estruturas, parcialmente ou total-mente e, quando não financiada, não é possível conseguir o seguro”, afirma Vasconcelos.
O interessado precisa procurar a Casa da Agricultura, onde um técnico solicitará os documentos necessários para avaliação da participação no programa de crédito. O Sindicato Rural dá todo apoio necessário aos associados para reunir os documentos exigidos, inclusive laudo agronômico.
Segundo o assistente de planejamento da Coordenadoria de Assistência Técnica (CATI), Regional de Jaboticabal, as dificuldades encontradas no processo são mínimas. “As limitações que temos encontrado, geralmente, estão ligadas à incapacidade de comprovação de renda por parte do produtor ou alguma outra restrição bancária”, afirma André Luiz Gonçalves.
Valdecir Vasconcelos explica que os critérios de enquadramento levam em consideração a renda pessoal, não o limite de área de produção, por isso, não é possível estimar um número exato de produtores das cidades de Ibitinga e Tabatinga que podem participar, mas calcula-se que mais de 80% dos produtores possam se enquadrar.