A Associação das Indústrias Exportadoras de Suco (Citrus Br) divulgou a estimativa 308,8 milhões de caixas de 40,8 quilos na safra de laranja 2014/15 para o cinturão citrícola que compreende São Paulo e Sul de Minas Gerais.
Dado importante, pois trata da oferta de fruta, um dos pilares do mercado nacional e internacional (ao lado da demanda e dos estoques), a estimativa retrata o momento delicado vivenciado pela citricultura.
Com uma diferença de quase 50 milhões de caixas, a estimativa do Grupo de Consultores em Citrus (GCONCI) é de 259 milhões de caixas, baseada nas propriedades assistidas pelo grupo de consultores, compreendendo aproximadamente 20% da citricultura.
“Não saberia dizer porque há diferenças entre as estimativas. Ambas refletem uma segunda safra seguida menor que as duas grandes safras que tivemos recentemente, e que culminaram na crise que estamos passando no momento. Com isso, deverá haver uma diminuição dos estoques de suco de laranja, o que, por sua vez, deveria ser um estímulo para as indústrias processadoras comprarem mais frutas no setor daqui por diante”, afirma o engenheiro agrônomo, consultor do GCONCI, Gilberto Tozatti.
Para o diretor-executivo da CitrusBR, Ibiapaba Netto, a diferença está na metodologia. segundo o presidente do SR Frauzo Sanches tomando como referência os dados do relatório do greening é muito dificil pelo número de plantas existentes no relatório do greening chegar a 308 milhões de caixas. Associado a in tensa redução no número de plantas tem a questão dos baixos investimentos em insumos agrícolas e a queda de frutos devido ao greening que afetam diretamente na redução da produção. Como isso a produção deverá ser inferior ao divulgado pela CitrusBr. Já o Gconci, que estimou uma safra de 259 milhões de caixas, apesar de não conhecermos os detalhes da metodologia utilizada, temos visto que trabalha com uma estimativa de perda nos pomares maior do que o avaliado pela CitrusBR. E há também o USDA, que estimou uma safra comercial de 310 milhões, muito próximo do nosso número também”, justifica.
Avaliação
As opiniões também divergem quanto ao cenário da citricultura. Levando-se em conta que 90% do que é produzido é exportado, o cenário é preocupante, segundo Ibiapaba Netto. “Temos um grave problema de demanda. O consumo de suco de laranja vem caindo nos principais mercados do produto. Segundo estudo da consultoria Markestrat, com dados do Euromonitor e Tetra-Pak, de 2003 a 2013 o consumo global caiu 10,8%, principalmente pela concorrência cada vez mais acirrada com outras bebidas como isotônicos, energéticos e águas com sabor. Toda a categoria de sucos integrais vem sofrendo com a retração da demanda, como ressalta, aliás, o estudo da Associação Europeia de Sucos de Fruta (AIJN), lançado semana passada”, afirma.
Para o consultor do GCONCI, o mercado de fruta fresca promete ser rentável, desde que o produtor tenha fruta de qualidade e preferencial-mente disponível em determinados períodos do ano. Já o mercado para processamento vai depender da política de preços das indústrias processadoras. “Embora os funda-mentos do setor se mostrem favoráveis à valorização do produto, isto não vem acontecendo no momento, o que desestimula os produtores, principalmente aqueles com menor produtividade”, ressalta Tozatti.
Com os preços das variedades precoces girando em R$ 8,00 e as demais em torno de R$ 10,00 enquanto os custos de produção, segundo CEPEA e CONAB, variam entre R$14,00 e R$16,00, além da dificuldade de entrega das frutas contratadas, pois as empresas dão prioridade de recebimento das frutas próprias, o cenário não deve mudar, na opinião do produtor e presidente do Sindicato Rural de Ibitinga e Tabatinga, Frauzo Sanches. “Prejuízos acumulados nas últimas safras fizeram com que milhares de produtores desistissem da atividade, assim como baixo investimento em adubos, corretivos e defensivos agrícolas, esta redução deve influenciar muito a safra neste ano e nos próximos. Segundo dados da CDA, tendo como base o Relatório do Greening, em 2013 houve redução de 20 milhões de plantas. De dezembro de 2010 a dezembro de 2013, a redução chega a 64 milhões de plantas. A previsão é de redução continua da produção neste e nos próximos anos”, afirma Sanches.
O produtor Ademir Manduca é um exemplo desta realidade. “Há três anos que os preços estão ruins e não compensa mais manter a produção. Como minha quebra foi muito grande, a alternativa é mudar de atividade. Estou fazendo o arranque de tudo e vou investir na cana”, afirma.
Outro citricultor, Roberto Aparecido Salva, aponta outras dificuldades. “Tenho um contrato de dois anos, e meu maior problema hoje é o clima e a falta de água. Já perdi 20% da produção, além disso, essas condições possibilitam o aparecimento do greening, nestas condições, o produtor que plantar nesse momento, poderá chegar a não ter sua planta, por isso, estou indo para outras regiões, onde a doença não encontra condições para se desenvolver. Outra alternativa é esperar que haja um vazio sanitário, pois plantar laranja próximo a áreas com alto índice de contaminação é suicídio”, avalia.
Segundo o consultor do GCONCI, Gilberto Tozatti, ainda não é possível estimar a safra seguinte, é necessário aguardar a próxima florada, no entanto, os pomares mal cuidados pela descapitalização do setor, a redução de área cultivada e o stress sofrido pelas plantas em função da seca sem precedentes, denunciam que não será surpreendente