Ibitinga, Sábado, 23 de Novembro de 2024
Hidrovia parada gera R$ 200 mi de prejuízos
Navegação segue suspensa na Tietê-Paraná e terminais de Pederneiras estão fechados

Trecho do rio Tietê em Barra Bonita.

Sem perspectiva para a volta da navegação neste primeiro semestre na hidrovia Tietê-Paraná, sindicatos e empresas ligadas ao setor já contabilizam que o prejuízo chega a R$ 200 milhões de perdas direta e indireta e pelo menos 1.000 demissões desde a suspensão da navegação, a partir de maio do ano passado. Esses números foram divulgados ontem, na Barra Bonita (68 quilômetros de Bauru), em um encontro com representantes de vários segmentos a bordo do navio São Marino. 
 
A reunião fez parte da mobilização do setor para buscar convencer as autoridades federais de rever a estratégia do governo de priorizar a geração de energia em detrimento da navegação.
 
A Tietê-Paraná é uma rota estratégica para grandes indústrias que exportam farelo de soja, celulose e madeira do centro oeste  para o porto de Santos, o maior da América Latina.
 
A suspensão no transporte de carga de longo percurso ocorreu porque as usinas de Três Irmãos e Ilha Solteira passaram a gerar mais energia, reduzindo o nível de seus lagos, que são interligado com o Canal de Pereira Barreto. 
 
Na região de Bauru, a medida provocou de imediato a paralisação dos entrepostos de Pederneiras e Anhembi. “Praticamente está tudo parado, a espera de uma solução que até o momento não veio. A solução existe: é política e não mais técnica”, afirma José Gheller engenheiro responsável da Transporte Navegação e Portos Modais (TNPM), a maior empresa que opera no rio com 14 comboios. Só em Pederneiras foram 98 demissões. No momento o entreposto só tem quatro funcionários e ontem as instalações estavam fechadas. A Caramuru com unidade em Pederneiras e em Anhembi também demitiu cerca de 150 pessoas entre pessoal contratado e terceirado desde a crise do ano passado, informa o supervisor da empresa Wakys Augusto de Oliveira.
 
O secretário de Desenvolvimento Econômico e vice-prefeito de Pederneiras, Juarez Solana, afirma que o impacto mais forte nas finanças do município vem a partir do ano que vem. “Por baixo o município deve perder de R$ 15 a R$ 20 milhões de repasses de Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), sem contabilizar o impacto do desemprego com as demissões no setor”, conta Solana.
 
O JC visitou ontem o Terminal Intermodal em Pederneiras, onde faz o transbordo para vagões ferroviários da MRS Logística, cujo o terminal estava fechado. A hidrovia faz em Pederneiras a interligação com a ferrovia para chegar ao porto de Santos. 
 
O evento foi promovido pela Federação Nacional das Empresas de Navegação Aquaviária (Fenavega) e apoio do Sindicato dos Armadores de Navegação Fluvial do Estado de São Paulo (Sindasp).
 
Remoção de pedras 
 
O “gargalo” na hidrovia fica na região de Nova Avanhadava, onde aguarda as obras de derrocamento (remoção de pedras) para aumentar a profundidade em mais dois metros. O investimento está estimado em R$ 314 milhões e está sendo licitado. “Se a obra de derrocamento estivesse concluída, as barcaças não conseguiram navegar atualmente, o nível do rio está baixo. A cota mínima é de 322.40 m.s.n.m em relação ao nível do mar, mas está em 319,47”, contou o ex-presidente do Sindasp, Luiz Fernando Horta Siqueira.
 
Fenavega diz que falta gestão
 
O presidente da Fenavega, Raimundo de Holanda Cavalcante, critica os governos federal e estadual por investirem “muito” na hidrovia mas faltou gestão ao manter a navegação no trecho. “A estiagem era previsível, faltou planejamento para que não priorizasse a produção de energia e parasse a navegação”, declarou. Uma questão levantada na reunião foi o desrespeito à lei federal que estabelece o uso múltiplo das águas.
 
Para o consultor do Departamento Hidroviário Luiz Roberto Corrêa, a Agência Nacional de Água (ANA) deveria ter se preocupado também com a navegação. “Faltou realmente gestão, porque no ano passado o (governo federal) ao temer um colapso no sistema elétrico priorizou a geração de energia, o que dificultou aumentar a vazão do Tietê”, declarou.
 
Os empresários estimam que entre investimentos públicos e privados em terminais, novas embarcações e fábricas foram despendidos em torno de R$ 6 bilhões.
 
Corrêa ressalta que “tem que torcer para chover”. “Se o sistema elétrico não mudar a sua forma de geração de energia, somente se chover muito para encher os reservatórios”, declarou.
 
Para o prefeito de Araçatuba, Cido Sério (PT), existe realmente uma dificuldade de convencer as autoridades de que é necessário equilíbrio entre os usuários dos reservatórios, mas teria faltado regulação. O setor é fiscalizado pela Agência Nacional de Água (ANA) e o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). O prefeito admitiu que Araçatuba é o município que mais sente os efeitos da crise, com a paralisação de entrepostos.
jcNet

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