A esperança de voltar a viver sem restrições chegou ontem em um avião da Polícia Militar com um fígado novo para o açougueiro Cláudio Donizete Cousin, 47 anos. Uma equipe de policiais decolou do aeroporto de Congonhas, em São Paulo, com destino a Rio Preto; a aeronave King Air, além de quatro policiais, carregava o órgão de um doador da Capital.
O trabalho dos policiais foi necessário porque a equipe de médicos do Hospital de Base, que faria a retirada do órgão do doador no Hospital das Clínicas em São Paulo, não conseguiu pousar na Capital por falta de teto. O aeroporto estava fechado devido à neblina. O doador é um jovem de 21 anos, que morreu por traumatismo craniano ao se envolver em acidente entre uma bicicleta e um caminhão, anteontem.
A cirurgia de transplante no HB começou às 15h30, com previsão de ser concluída às 20h30. Morador de Ibitinga, o paciente que recebeu o órgão tem cirrose hepática e passava por tratamento há um ano e cinco meses. Esperava o transplante desde abril. A tão esperada ligação do HB informando que havia um órgão compatível chegou de madrugada e trouxe esperança de uma nova vida.
A família de Claudio afirma que agora ele tem duas datas para comemorar. “Amanhã (nesta sexta-feira) ele completa 48 anos e hoje (ontem), renasceu. Teremos duas datas para comemorar. O interessante é que no fim de semana perguntei para ele: o que você quer de aniversário e ele não titubeou: um fígado novo’. E ganhou”, afirmou o cunhado dele, Marcelo Henrique Altarejo, 76 anos.
A expectativa é de que Claudio volte a fazer as atividades rotineiras. “A doença o deixou apático e com o emocional abalado. Ele sempre trabalhou na lida com criação, coisas da fazenda, e já não tinha mais condições. Passou a ter uma vida restritiva. Com o novo órgão, vida nova. Estamos confiantes na recuperação dele,” disse o cunhado Marcelo.
O chefe da unidade de Transplantes de Fígado e Intestino Delgado do Hospital de Base, Renato Ferreira da Silva, explica a complexidade do tratamento de fígado. “Diferentemente do rim, por exemplo, que há uma máquina que faça a sua função - hemodiálise -, a medicina não desenvolveu uma máquina que auxilie no tratamento de doenças no fígado” , disse o médico.
Como foi a ajuda
A ação foi movimentada: os médicos do HB saíram de Rio Preto às 6h ontem. Como não havia condições de pouso em São Paulo, eles voltaram, e ficou combinado que a equipe médica do Hospital das Clínicas retirasse o órgão. Como não havia avião comercial no horário para voltar com o fígado (o órgão pode esperar até 24 horas até o transplante), a Polícia Militar foi acionada, providenciando um avião com policiais que se encarregaram da missão.
O voo de Congonhas saiu por volta das 13h30, quando já havia teto, chegando a Rio Preto às 14h30. “Mas sempre que passa de 12 horas há o risco de complicações. Por isso, é fundamental essa parceria com a Polícia Militar. Tivemos cinco horas de vantagem caso o transporte tivesse sido feito de carro”, afirmou o médico Renato. “É gratificante porque, além da missão de proteger, nosso trabalho ajuda a salvar vidas,”disse o sargento Agmar Felipe Saraiva.
Fonte: http://www.diariodaregiao.com.br/cidades/avião-da-pol%C3%ADcia-salva-transplante-no-hb-1.354373