O Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus) anunciou na última terça-feira (10/05) que a safra de laranja 2016/17 do principal parque citrícola do Brasil - que engloba 349 municípios de São Paulo e Minas Gerais - deverá ser de 245,74 milhões de caixas de 40,8 kg. A estimativa é 18% menor do que a da safra 2015/16, na qual foram colhidas 300, 65 milhões de caixas de laranja.
A Pesquisa de Estimativa de Safra foi realizada de 28 de março a 28 de abril de 2016, por meio da derriça (colheita total) de 2.200 árvores distribuídas em todo parque citrícola, de acordo com idade, variedade e região. O trabalho é realizado pelo Fundecitrus em cooperação com a Markestrat, Unesp e FEA/RP-USP. Segundo o presidente do Sindicato Rural de Ibitinga e extensão de base em Tabatinga, Frauzo Ruiz Sanches, o trabalho de divulgação da safra pelo Fundecitrus é muito importante, pois dá transparência e orienta o mercado de forma clara. “Antes apenas as indústrias tinham esta informação, que usavam em detrimento dos produtores. O setor cobrava esta informação há muito tempo, por isso, agradecemos e parabenizamos o Fundecitrus pelo trabalho”, afirmou Sanches.
A quebra se deve principalmente às altas temperaturas na época da florada, que causaram a queda das flores e chumbinhos (frutinhos). As variedades mais atingidas foram as tardias que terão um volume 20% menor do que na safra anterior. Do total, cerca de 9,59 milhões de caixas deverão ser colhidas no Triângulo Mineiro, principal região produtora de Minas Gerais.
A produtividade média por árvore diminuiu em 19% na safra atual com a estimativa de 1,40 caixas/árvore, contra 1,73 caixas/árvore na safra passada. O número médio de frutos por árvore em abril de 2016, sem considerar a queda que ocorrerá ao longo da safra, foi mensurado em 430 frutos por árvore, 14% menor em comparação com abril/2015, e a taxa média de queda estimada é de 15% até o final da safra.
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) elevou para 81,1 milhões de caixas a previsão de safra de laranja da Flórida. O número representa um aumento de 6,7% em relação a última estimativa, de abril, mas ainda 16% abaixo da última safra.
Se for confirmada esta estimativa, a Flórida terá uma das menores safras de sua história.
Do total produzido, 45 milhões de caixas deverão ser de laranja da variedade Valência. A menor produção prevista desta variedade desde a safra 1989-1990.
Parque citrícola encolhe 6%
O parque citrícola - maior região produtora de citros do Brasil -, encolheu 27,8 mil hectares no último ano, segundo o levantamento do Fundecitrus. A área com pomares de laranja, incluindo todas as variedades, é de 416 mil hectares, 6% menor em comparação com 2015.
As variedades que somam 97% dos pomares totalizam 192 milhões, 3% menos que há um ano, quando foi realizado o censo da citricultura. Dessas 175 milhões são produtivas, um aumento de 0,8 % em relação à última safra 2015/16. As árvores plantadas a partir de 2014 são consideradas improdutivas.
Mais de 90% do cinturão citrícola se constitui de quatro variedades: Pera Rio, que lidera com 35% das árvores, seguida de Valência (29%), Hamlin (12%) e Natal (11%).
A maior perda de pomares por erradicação ou abandono ocorreu na região de Matão, que foi reduzida em 6.429 mil hectares (-18% do total). As reduções das demais regiões são: Limeira menos 5.107 hectares (-14% do total), Bebedouro com menos 4.820 hectares (-14 % do total), Porto Ferreira menos 4.677 hectares (-13% do total), e, Votuporanga menos 4.670 hectares (-13% do total).
Análise da estimativa
De acordo com Frauzo Sanches, a estimativa apresentada pelo Fundecitrus surpreende, ficando bem abaixo do que o mercado esperava — 280 milhões de caixas. “O número divulgado, de 246 milhões de caixas, somado ao estoque de passagem divulgado pela Citrus Br para julho próximo, início da safra 2016/17, será de 292 mil toneladas, o que deve zerar o estoque técnico e mínimo de passagem para a safra 2017/18, que é de 300 mil toneladas.
“Entre março e junho, normalmente, as indústrias não tem fruta ou elas não tem qualidade para processamento. O estoque de 300 mil toneladas é o mínimo tecnicamente necessário para passar este período e o estoque de passagem informado para o final da atual safra (2015/16) já está abaixo desse mínimo. O próximo, de acordo com os dados apresentados, será perto de zero. Atentas a isso, desde o início do ano as indústrias mantiveram pelo menos uma de suas plantas em funcionamento nesse período. Dada à escassa quantidade de fruta, confirmada pela estimativa do Fundecitrus, associado ao baixo estoque de passagem, as empresas tem fábricas recebendo frutas da variedade Hanlin, pagando preços elevados para esta cultivar, entre R$ 16,00 e R$ 20,00 a caixa, mesmo sendo frutas que consideram fora do padrão adequado de maturação para o momento”, explica Frauzo.
Ainda segundo o presidente da entidade, embora os valores nominais pagos pela indústria sejam os mais elevados — senão o mais alto de toda história para esta cultivar —, ainda mais neste período em que, historicamente, as frutas ainda não estão aptas para colheita, a distorção de mercado enfrentada pela citricultura nos últimos anos comprometeu tanto a atividade no estado, levando muitos citricultores a abandonarem o cultivo ou deixando outros financeiramente comprometidos e endividados, que este valor não será suficiente para cobrir prejuízos acumulados e beneficiar a citricultura paulista. “Esperamos que, daqui por diante, ações conjuntas entre as indústrias e produtores sejam efetivas para o progresso do setor, da atividade e de toda comunidade envolvida nos municípios”, conclui Sanches.