Ibitinga, Segunda, 25 de Novembro de 2024
Agrotóxico usado na cana mata dois milhões de abelhas, dizem apicultores
Produtores de mel contabilizam prejuízos por venenos em Gavião Peixoto. Ano passado morreram mais de um milhão de insetos pelo mesmo motivo

Os produtores de mel de Gavião Peixoto (SP) contabilizam os prejuízos depois que mais de dois milhões de abelhas morreram nas últimas semanas. Os apicultores acreditam que a mortandade tenha sido causada pela aplicação indiscriminada de agrotóxicos por parte dos produtores de cana-de-açúcar e de laranja. Segundo o Ibama, a pulverização aérea com algumas substâncias é proibida.

Mesmo assim, o problema não pôde ser evitado. Para o apicultor José Luiz Santos, o prejuízo estimado é de R$ 15 mil. “Eu tinha 30 colmeias. A expectativa era produzir mais uma tonelada de mel por ano, mas perdi tudo”, lamentou.

O caso foi denunciado para o Ministério da Agricultura e Meio Ambiente de Gavião Peixoto, que já coletou amostras para análise. Os apicultores suspeitam que as abelhas morreram por causa do uso de veneno na região. Principalmente quando é aplicado por aeronaves.

Todos os produtores rurais registraram boletim de ocorrência. “Estou aguardando o resultado da análise para ver se comprova se é o mesmo tipo de veneno. Tem que resolver, se não, não tem como trabalhar mais”, ressaltou o apicultor Valentim Donizete.

Recorrente
Além do prejuízo gerado este ano, os produtores também acumulam o prejuízo do ano passado, quando perderam dezenas de colmeias e mais de um milhão de abelhas morreram. Na época, um laudo constatou a presença de um inseticida usado para combater cupins em canaviais.

Este ano sobraram apenas algumas abelhas. Mas, toda a estrutura será jogada fora. “É preciso se desfazer, porque se colocar outro enxame no mesmo lugar, as abelhas vão morrer, pois o agrotóxico continua reagindo durante cinco anos”, justificou Donizete.

Sem controle
Segundo o pesquisador do instituto de biociências da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Rio Claro, Osmar Malaspina, o uso de agrotóxicos aplicados sem controle mata as colmeias. “Os agricultores têm aumentado as aplicações, como por exemplo, nos pomares de laranja, para controlar as pragas. No caso da cana-de-açúcar o aumento ocorre também porque as pragas não podem ser mais combatidas com a queima”, explicou.

A pulverização aérea também é um problema. “Conseguimos mostrar que a grande mortandade de abelhas estava relacionada à aplicação de agrotóxicos. Esse tipo de pulverização aérea foi suspensa por um tempo, mas este ano está sendo rediscutida se vai ser mantida ou se o Ibama vai liberar essa aplicação aérea”, disse Malaspina.

Fiscalização
O Ibama informou que proibiu a pulverização aérea com algumas substâncias. Já o escritório de Defesa Agropecuária afirmou que faz fiscalizações e que ainda não foi informado oficialmente sobre a mortandade das abelhas.

A federação que representa os agricultores não respondeu sobre o uso indevido de agrotóxicos. O laudo sobre a causa da morte deve sair na semana que vem.

G1

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