Marcha Soldado / Cabeça-de-Papel / Se não marchar direito
Vai preso pro quartel / O quartel pegou fogo / A polícia deu sinal
Acode, acode, acode / A Bandeira Nacional.
A cantiga popular acima, de origem desconhecida (com certeza europeia), parece contar a estória de um soldado, que não marchava direito. Avoado ou com um capacete de papel, daqueles feitos de jornal. Deve ter sofrido bullying no quartel. O quartel pega fogo. O soldado está preso. Gritam: acode, acode, acode. Alguns pensam que é para o soldado cabeça-de-papel. Não era. Deveriam acudir a Bandeira Nacional.
Da cantiga à realidade política brasileira. Criaram – os políticos, o Capitão da reserva, Jair Messias Bolsonaro (PSL), hoje Presidente eleito do Brasil, com votação abaixo do previsto, mas, mesmo assim, com muitos votos (57.797.847 – 55,1% dos votos válidos). O seu opositor, Fernando Haddad (PT), teve 47.040.906 – 44,9% dos mesmos votos válidos. Nada desprezível, para um Brasil extremamente dividido, entre direita e esquerda; entre antipetistas e petistas (na verdade essa foi uma divisão apartidária).
A campanha estava com bons candidatos: Amoêdo (Novo), Alckmin (PSDB), Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede). Perderam e devem fazer uma oposição ao eleito.
Mas o clima eleitoral não viu propostas de candidatos. Vimos um festival inusitado e triste de mensagens destrutivas de pessoas, nos programas eleitorais, debates, e mídias digitais. Uma vergonha, para que o eleitor pudesse tomar sua decisão. Restou uma infinidade de abstenção, votos nulos e brancos, que somados chegam à casa de 42.466.402 de votos, ou em termos percentuais – 30,87%. O resultado poderia ser outro, para qualquer um dos candidatos.
Não adianta reclamar do resultado – porque – diante dos números – podemos verificar que o maior culpado do resultado – para o bem ou para o mal – é o eleitor. O voto, no Brasil, tornou-se facultativo: justifica-se ou paga uma multa irrisória. Pronto. Sou favorável ao voto facultativo (na prática, já existente).
O que será um Governo Bolsonaro? Deverá ser – e tem que ser – antes de mais nada, democrático, cumpridor número 1 da Constituição e das leis do Brasil. Deverá, respeitar a liberdade de expressão, em todas as suas formas (vedado, como está no texto constitucional, o anonimato e a responsabilidade pelo que se escreve); a liberdade religiosa, em todas as vertentes cristãs, não cristãs, ateus; a liberdade política (com as reformas tanto reclamadas e que os políticos nunca fizeram seu dever de casa); a reforma fiscal, para que possamos ter um Brasil gerador de empregos, que nosso parque industrial aumente e que os impostos possam ser gerados e pagos, com redução da implacável carga tributária em cascata, que se tornou insuportável, tanto para os empregadores, como empregados; deverá fazer uma reforma no Sistema Penal e Presidiário no Brasil (pena não é vingança); a tão propalada Reforma da Previdência, necessária, urgente e uma das causas – segundo especialistas – do enorme rombo nas contas públicas, que deve chegar à casa dos R$ 140.000.000,000,00 em 2018 (estava previsto R$ 159.000.000.000,00). Seja lá de direita, de extrema direita, devemos estar de prontidão para que tenhamos um Brasil mais justo, mais fraterno, mais humanizado, mais empregos e democrático.
Deverá o futuro Presidente respeitar a harmonizar os Poderes legitimamente constituídos, em todas as instâncias governamentais (Estados, Municípios e o Distrito Federal) e institucionais (Judiciário, Congresso, Ministério Público, etc...).
Ao tomar posse e saber como funciona a máquina administrativa, os governantes – sem exceção – acabam por não mais ouvir seus “palpiteiros” eleitorais. Formam um chamado “núcleo duro de poder”, que via de regra, levam ao mandante ótimas notícias, mesmo quando o povo está absolutamente insatisfeito e passando fome. Deverá o futuro presidente ouvir “as vozes roucas das ruas”, porque elas estão prontas para soltar gritos. Aprenderam – de forma feroz – e isso precisa ser mais contido. Mas não abandonado. O povo é o detentor do Poder. Nossas Constituições já disseram e continua a dizer: “Todo o Poder emana do Povo”. Essa emanação do Poder é exercida por seus representantes ou diretamente, na forma constitucional. O governante não pode se esquecer, jamais disso: ele é eminentemente transitório, numa democracia.
Bolsonaro não exterminou sua oposição. Ao contrário, deu a ela, motivos para se reinventar, refletir sobre os escândalos perpetrados por todos – todos – os Partidos e seus líderes máximos – com as raríssimas exceções. Alguns presos e outros, que ainda serão.
Que a oposição seja altiva (e ativa) mas saiba os limites das necessidades das melhorias de que o Brasil precisa e, juntos, possam trabalhar para essa melhoria.
Acode, Acode, Acode a Bandeira Nacional. Espero que não tenhamos um soldado cabeça-de-papel, como Comandante-em-Chefe das Forças Armadas e que nosso Presidente seja cumpridor, inflexível das nossas leis. Sucesso.