No dia 17 de outubro de 2000, numa terça, dia da semana associado a Marte, deus romano da guerra e guardião da agricultura.
Noutra terça, agora em 01 de janeiro de 2019, uma cena foi por mim lembrada. Não pela coincidência das terças-feiras, mas, um fato curioso e, digamos, um tanto quanto inusitado. Mas quando se trata de política, tudo tem um sentido, um tom; não, não vou falar da atual e nem da anterior primeira dama.
Uma caneta. A caneta de um nome muito conhecido, que teve certo protagonismo na assinatura das nomeações ministeriais dessa última terça. A caneta Bic.
O fato me chamou atenção, não pelo uso, nem pelo foco das câmeras dados à dita cuja. Fez me relembrar do dia 17 de outubro de 2000, quando esteve presente na Comissão de Orçamento do Congresso Nacional, o então Ministro da Fazenda, Pedro Malan (época de FHC). O então deputado federal Aloizio Mercadante, que era líder do PT na Câmara e o Ministro bateram boca forte, durante o depoimento do Ministro, naquela Comissão.
A discussão começou quando Mercadante acusou Malan de ter dois discursos: um como ministro e outro como candidato em 2002. Disse o deputado:
- "Quando faz campanha, o ministro cita Marx e promete dinheiro para dona Ruth dar aos pobres. Isso tudo só para alimentar o site Malan 2002", atacou. "Mas quando governa, o ministro age como primeiro aluno do FMI."
Aloizio se referia a uma candidatura de Malan à Presidência da República. Em determinado momento, a condição de "homem-forte" de Malan dentro do governo foi tanta que o PSDB chegou a cogitar sua candidatura à sucessão de Fernando Henrique Cardoso em 2002. No fim, entretanto, o escolhido foi o então ministro da Saúde e hoje Senador José Serra. É dele a frase: "O que é bom não é novo e o que é novo não é bom".
Na discussão, o Ministro rebateu, acusando o partido de Mercadante de ser esquizofrênico.
- "O PT condena o calote à dívida externa, mas apoia o plebiscito da CNBB. O partido participou dos debates da Lei de Responsabilidade Fiscal e depois recorreu ao Supremo contra a lei. Isto é esquizofrenia", disse.
A discussão continuou quando o debate entrou no tema “aumento do salário mínimo”, que agora, graças a uma regra muito esquisita está em R$ 998,00. Malan reconheceu que o salário era (e é) baixo e que precisaria ter um aumento maior. Porém, como sempre, segundo o Ministro, não havia recursos previstos no Orçamento de 2001 e que qualquer outro acréscimo, além dos 5,57% previstos, dependeria de o Congresso encontrar receitas correspondentes.
O então combativo deputado petista, Mercadante voltou a atacar, mostrando que o aumento previsto corresponde a R$ 0,28 por dia no bolso dos assalariados.
- "Esse aumento é ridículo, não paga o copo de água mineral “nem a tinta da caneta Mont Blanc” que o ministro usou hoje aqui", disse o deputado.
Malan, não deixou o tom baixar:
- "Eu não uso Mont Blanc, uso essa caneta vagabunda", disse o ministro, mostrando a caneta para as câmeras de TV.
A caneta em questão, longe de chama-la de vagabunda, era Bic. Essa caneta, popular, usada no dia-a-dia por muitos, pelo seu preço e durabilidade, ganhou fama entre os políticos dessa nova época no Poder, como sendo de austeridade.
No final, Malan e Mercadante chegaram a um acordo. O petista propôs uma solução para o aumento do mínimo, utilizando verbas de emendas de parlamentares, do fundo de contingência e reduzindo o montante destinado para manutenção de prédios, de carros e de computadores oficiais.
E o Ministro finalizou:
- "Queria pedir desculpas se me excedi, mas é que algumas pessoas estão em campanha eleitoral e eu não estou. Mas eu tenho o costume de responder no mesmo tom exaltado quando sou provocado".
Tomara que as soluções sejam encontradas, mesmo numa oposição aguerrida e necessária (mas educada e verdadeira) e que a caneta não fique somente no simbolismo dessa austeridade. O Brasil precisa, muito e urgentemente, sem milagres, encontrar um rumo de investimentos, para a geração de empregos.
Não voltem as “Mont Blanc” e a corrupção. Saibam nossas autoridades, de todos os Poderes, a usarem as Bics, em prol da população.