Ibitinga, Sábado, 23 de Novembro de 2024
O tempo Ruge, a Sapucaí é grande e o Império aplaude o Felomenal!

É certo e sem quaisquer sombras de dúvidas, que muitas das coisas que fazia e incomodavam, deixei de lado. Uma delas foi deixar de ver novelas. Assistia as da GLOBO. Nem pensar. Esse tal BBB, que vai recomeçar – àqueles que assistem e gostam – meus mais sinceros respeitos e desculpas – mas acho um dos grandes lixos da televisão brasileira.

   Aqueles programas da Xuxa, que toda criança era praticamente obrigada a assistir, já achava uma grande porcaria. Nunca vi nada de instrutivo no programa, nem nas novelas. Ao que consta, andam piores. Mas há audiência (IBOPE e RECEITAS). E gosto a gente não discute, respeita e aceita. É assim, em tudo.

   Num Curso, àquela época passava “Dona Beija”, na extinta Rede Manchete, baseada em fatos históricos, da época imperial, exibida em 1986. O professor entra em sala, num sábado pela manhã, muito bem-humorado e diz: “viram ontem a cena da Maitê, nua, sobre um cavalo branco, no Arraial?”. A novela tinha no elenco Maitê Proença, Gracindo Júnior, Arlete Salles, Bia Seidi, nos papéis principais.  Não!!!... eu era o único que não tinha visto. O professor, um dos grandes penalistas que conheci, disse que era necessário assistirmos novelas, pois teríamos assunto no dia seguinte. Quem não assistia, ficaria por fora das conversas, desde o café da manhã. E ver Maitê, nua, àquela época, parecia algo nunca dantes visto nesse mundo. “Toda nudez será castigada” (peça teatral escrita por Nelson Rodrigues em 1965). Não era o caso da beleza de Maitê. Ninguém sofreu castigo...

    Naquele mesmo dia me fez lembrar, uma Manchete do “Pasquim” (semanário alternativo, editado entre 26 de junho de 1969 e 11 de novembro de 1991, reconhecido pelo diálogo entre o cenário da contracultura da década de 1960 e por seu papel de oposição ao regime militar): Em primeira página inteira (de 18 a 23/03/1982) -  numa charge, de maiô, sapato com salto e o título:  MAITESÃO PROENÇA. A NOVA NAMORADINHA DO BRASIL. 

Seguiu uma entrevista dela com “O Incrível Ricky”. O Incrível Ricky era Ricky Goodwin e a capa fora produzida pelo Carlos Chagas. A entrevista foi solicitada pelo grande Ziraldo. A certa a altura:

   “Ricky — Você fica satisfeita de tantos homens te desejarem?

   Maitê — (Ganha tempo.) Se fico satisfeita? (Pensa.) Não acho que seja um mito sexual, meus personagens não transpiram sexo o tempo todo. (Passa a mão pelas pernas.) É, mas as pessoas sempre ligam beleza e sexo. (Reúne o cabelo numa mão e põe todo de lado, um gesto que faz muito.) No momento tô curiosa em relação a isso. Tem muita gente chata que vem se relacionar com você, mas ao mesmo tempo você pode conhecer uma pessoa simpática devido a este motivo, sem o trabalho de ir lá e tomar o primeiro passo. Pode ficar sentada: "Venham a mim." Isso é cômodo. (Risinho.) Depois que as pessoas vêm a mim, posso quebrar o impacto causado pela televisão, mostrando outras coisas que eu tenho”.

   O semanário acabou rapidamente. Portanto – essa questão da nudez feminina, desde as grandes obras, clássicas, sempre foi e será, assunto a vender revistas (PlayBoy – foi um grande exemplo), acesso a internet, etc... E o Código Penal, no art. 233, ainda criminaliza tirar a roupa, catalogando como “Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou exposto ao público:   Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa”. É uma coisa de maluco. Mas..... é assim.

   Mas, como já assisti novelas, tem algumas, aquelas “água com açúcar”, de bons escritores e diretores: Janete Clair, Dias Gomes; elenco de alto nível (acho que deve estar difícil heim...): Fernanda Montenegro, Tarciso Meira, Beatriz Segall (Odete Roitman), Lima Duarte, Eva Wilma, Antonio Fagundes... Vou parar aqui.

   Outra que assisti e o título desse artigo faz alusão ao personagem Geovanni Improtta, vivido por José Wilker (falecido em 2014), que se tornou filme com o mesmo nome. Mas a novela era “Senhora do Destino”.

   Geovanni Improtta tinha um vocabulário próprio, que às vezes carecia de explicação ou de uma “tradução”: O tempo Ruge, a Sapucaí é grande e o Império aplaude o Felomenal!

   Ouvir e ver a interpretação de Wilker, com sua gravata borboleta, seus gestos e as falas, era hilário. Giovanni Improtta era um contraventor que sonhava com a ascensão social. A sinopse da novela, não cabe aqui (cortaram meu espaço). 

   Bem o problema não são as novelas, nem os programas infantis, nem o BBB. Menos ainda, a Maitê. Confesso que ando procurando culpados (será uma neurose?) para tantos crimes contra as mulheres, hoje o famoso feminicídio, que em verdade, não é um crime “novo”, é uma agravante do crime de homicídio, uma circunstância específica que transforma o ato em homicídio qualificado. A pena para o crime vai de 12 a 30 anos de reclusão. Mas pode ser elevada em até 50% caso o crime seja praticado na presença de filhos, pais ou avós da vítima, durante a gestação ou nos três meses imediatamente pós-parto e ainda contra vítima menor de 14 anos, maior de 60 anos ou com deficiência. Feminicídio é o assassinato de uma mulher pela condição de ser mulher (é a tal questão de gênero). Suas motivações mais usuais são o ódio, o desprezo ou o sentimento de perda do controle e da propriedade sobre as mulheres, comuns em sociedades marcadas pela associação de papéis discriminatórios ao feminino, como é o caso brasileiro. É crime hediondo e, por isso, não admitem graça, indulto, anistia e nem fiança.

   Não vamos confundir as novelas, os programas de televisão, com a vida real. Imagine hoje, a publicação do que fez o Pasquim em 1983?

   O tempo Ruge, a Sapucaí é grande e o Império aplaude o Felomenal! Vamos respeitar todos os seres humanos e, às mulheres, vamos tratá-las de maneira “felomenal”. 

 

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