Ibitinga, Segunda, 30 de Dezembro de 2024
A MORTE

  Na semana passada escrevi nesta coluna, falando um pouco dos meus avós paternos, que tiveram uma vida muito longa e com que tive o prazer de conviver.

   Falei, no contexto, de que a vida “um dia será ceifada pela desonestidade da morte, que nos pega desprevenidos e com aquela foice. Sem chance de defesa. Podia – ao menos – dar uma proseada, fazer repensar alguma coisa, dar uma chance, mínima que fosse. Que nada!  Vem e já vai mandando a gente embora. Viver valeu a pena.? Como versou o poeta Fernando Pessoa, “tudo vale a pena, se a alma não é pequena”.

   A matéria foi publicada no sábado, 23. Ao acordar vejo a notícia da morte do apresentador, empresário, ator e cantor Gugu Liberato (Antônio Augusto “Gugu” Moraes Liberato), aos 60 anos de idade.

    Gugu nasceu em São Paulo, no bairro da Lapa e, desde a adolescência Gugu escrevia cartas para Silvio Santos sugerindo programas, que terminou por contratá-lo. Começou na televisão aos quatorze anos como assistente de produção do programa Domingo no Parque, apresentado por Silvio Santos no SBT.

    Estreou seu primeiro programa em 1981. No ano seguinte, começou a apresentar o Viva a Noite, que foi seguido pelo Sabadão Sertanejo, Domingo Legal e Gugu. Seu último trabalho na TV foi o talent show Canta Comigo. Gugu era considerado como um dos apresentadores mais consagrados da história da televisão brasileira. Em 20 de novembro de 2019, Gugu sofreu uma queda em sua casa em Orlando, na Flórida, Estados Unidos e morreu dois dias depois. Gugu estava no sótão trocando o filtro de ar condicionado quando pisou em falso. O teto de gesso (drywall) não aguentou o peso e acabou cedendo, causando a queda. Gugu caiu no andar de baixo da casa de uma altura de 4 metros e bateu a cabeça em um móvel, Vejam a fatalidade. Homem bem-sucedido, financeiramente, profissionalmente e ao que consta, com uma família extremamente sólida, com sua mãe aos 90 anos de idade. Filho João Augusto, com 18 anos (que testemunhou a queda do pai e chamou socorro) e filhas, gêmeas, Mariana e Sofia, com 15, que também estavam na casa.

   A vida que antes começava aos 40 anos, hoje começa um pouco mais tarde e Gugu deveria estar começando a usufruir das delícias da vida, com uma bela casa em Orlando, num condomínio de luxo, comprada há quatro meses, pelo valor estimado de R$ 6,7 milhões de reais. Uma mansão de 629 metros quadrados, seis quartos, sete banheiros e uma área externa descrita pelo site da imobiliária que negociou o imóvel, como "um oásis privativo com uma encantadora piscina de água salgada, equipada com spa, cozinha e uma lareira a gás”.

   O que explica e o que nos ensina a morte de Gugu. Teoricamente, nada. Porque, como disse, a morte é traiçoeira, não dá chance de repensar algo, em com a foice e não tem discussão sobre segunda instância, trânsito em julgado; se os dados da Unidade de Inteligência Financeira (UIF – antigo COAF) e da Receita Federal, podem ou não ser compartilhados, para fins criminais, com sigilo. Nada disso. A morte não dá discussão plenária.

Em várias mensagens recebidas, especialmente por WhatsApp, uma chama a atenção.

 O que a morte do Gugu nos ensina?

   Esse acontecimento ainda inacreditável nos mostra que a morte é um mistério que jamais vamos entender... Gugu era famoso, bem sucedido, milionário, poderia ter acesso aos melhores hospitais do mundo e aos tratamentos mais modernos para tentar prolongar sua vida no caso de uma doença indesejada... Mas quis o destino que num dia qualquer, na sua casa, junto da sua esposa e filhos, e com a saúde perfeita, um pequeno escorregão o levasse ao chão para que ele nunca mais levantasse... Por que não pagou alguém para fazer o serviço? Por que não percebeu o risco? São muitas perguntas e uma só resposta: porque tinha que ser assim... Um cara que sempre levou alegria paras as pessoas, que foi vítima de dezenas de fake news e que sempre ganhou seu dinheiro como fruto do seu trabalho e do seu talento... Sim, aos 60 anos Gugu se foi, morreu de um jeito estúpido tendo ainda tanto por desfrutar das suas conquistas... É a fragilidade da vida, como de forma sublime escreveu Silvio Santos, seu mentor, com 88 anos nos dá a sensação que o filho partiu antes do pai... Quem diria que o Gugu morreria antes do Silvio Santos, que o Ayrton Senna ia partir antes do Emerson Fittipaldi, o jovem Denner antes do Pelé, o Boechat antes do Cid Moreira e o alegre e irreverente cantor Gabriel Diniz antes do Roberto Carlos? A vida é um sopro, por isso valorize mais as pessoas do que as coisas, se importe mais com o exemplo que vai deixar quando lembrarem de ti do que com os bens materiais que não vai poder levar contigo quando chegar sua hora... Você pode desejar ser famoso, rico, bem-sucedido e tudo isso ser muito válido... Você pode estar atravessando um momento difícil, um desemprego, uma doença, um divórcio... Mas nada disso é o seu fim, olhe para os seus braços, você ainda pode lutar, olhe para as suas pernas, você ainda pode caminhar, respire fundo e perceba, apesar de tudo você ainda está vivo e se você está vivo então não deu errado... então viva intensamente e lute até o fim!

  Todas as mortes são estúpidas. A única certeza, nos causa sempre a incerteza e a tristeza, o inconformismo. Mas, tenha certeza, você e eu iremos morrer. Não há escapatória.

   Por isso, vamos comemorar, todos os dias, a vida, viver em paz. Tenhamos em mente o respeito mútuo, para uma vida melhor. Respeitar as opiniões divergentes, seja na política, na religião, no futebol, na etnia, na cor da pele. Nada disso nos faz melhor ou pior do que ninguém. 

Estou escrevendo a morte de Gugu Liberato, mas, serve para todas as mortes: são esperadas – inesperadamente. 

   Que possamos viver, intensamente e longamente.

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