Avisam-me de que o “Dia do Agricultor” é celebrado em 28 de julho, data criada em razão de ter sido nesse dia, em 1960, a fundação do Ministério da Agricultura, no mandato de Juscelino Kubitschek. É importante não confundir essa data com o dia do Agricultor Familiar, que é comemorado em 25 de julho (quarta-feira – passada). De qualquer maneira, tendo aqui, diante desses sofredores e que sustentam essa roubada Nação, prestar uma singela homenagem, com o texto abaixo, que publiquei, em março do ano passado numa página do Facebook.
Morei em lugares muitos pobres, não de alegria, mas de solidariedade e de companheirismo. Eram pobres porque à época era assim. Na verdade, repleta de poucas coisas, se é que me entendem. Tinham muitas coisas, daquelas que o dinheiro não consegue comprar. Mas faltava o que hoje existe.
Nossa geladeira (que já era um luxo), era a óleo. É, na parte inferior havia um recipiente onde colocava o óleo e ateava fogo num pavio, que fazia o refrigerador funcionar.
A energia elétrica, que revivi em Porto Velho, nos anos de 1982, era a motor a diesel. Funcionava durante o dia, por períodos. À noite, até por volta das 20hs.
Televisão. Ah!!!! se visse um bicho daqueles, era capaz de morrer de susto. Algo inimaginável. Rádio, ondas curtas – AM – chiado. Notícias não preocupavam.
Telefone – outra utopia daquele tempo. Era como cabeça de bacalhau. Sabemos que existe (e é uma delícia). Mas daí a ter um, era sonhar..... Um sonho que um dia virou celular.
Morei em fazenda, onde o galo cantava cedo, o retiro era bem na madrugada, com exceção às sextas santas. Às vezes algum amigo aventureiro se debandava para aquelas longuras e, com copo à mão, conhaque, tomava aquele espumante que saia das tetas das vacas (no sentido literal, fique claro), talvez com alguns coliformes fecais, que diferença alguma fazia, na época. Talvez reflitam hoje, no meu cérebro.... quem sabe?
A colônia eram trabalhadores, mas trabalhadores de verdade. Mãos grossas, calejadas, de puxarem o guatambu. Pareciam ter idade muito superior às que tinham ou eu era jovem demais. Semblantes sempre cansados, me lembro bem de cada um, especialmente do Nelson, o mais preto de todos. Era um exímio motorista, sem habilitação.
A marmita deles, quando iam ao cafezal, era meu alvo predileto, lá pelas dez da manhã, hora do almoço. Arroz, feijão, tomate, um zoiudo (sempre bem frito e frito mesmo, na gordura suína). O café ficava em garrafas comuns, não existiam as térmicas. A água em garrafas, ficavam debaixo dum pé de café qualquer, para com sua sombra, não deixar esquentar demais, porque causaria uma diarreia.
Aqueles colonos caminhavam mais de três ou quatro quilômetros, logo na madrugada, para a empreitada diária. Iam com suas enxadas ao ombro, a marmita, água, café, raramente um pedaço de pão caseiro, nelas pendurados, num embornal (na verdade, chamado de emborná). Caminhavam em fila indiana, como se houvesse um respeito enorme àquele que os conduzia. E existia mesmo.
Que pena não sentir saudades disso. Mas é uma enorme alegria ter vivido e convivido com pessoas tão grandes e generosas, que no ardor de seu trabalho, no cansaço da labuta mais árdua e desprezada que é a agricultura, davam, de bom grado, sua marmita ou a dividiam comigo. Quanto aprendizado com essa brava gente humilde, de alma nobre.
A lembrança disso tudo me faz sentir muito feliz, não sei se pela infância que tive ou pela infância que não tive. Lembro-me de cada fisionomia daquela época e não consigo lembrar-me das atuais. Posso confessar que ainda não fui diagnosticado com nenhuma esclerose ou começo de alzheimer. Mas essas pessoas me foram muito importantes.
Quem sabe, num outro surto, eu continue com histórias paradas, que merecem ser contadas.
Que nossa agricultura (de modo geral), consiga ser valorizada nesse Brasil, como disse, tão roubado. E roubam os Hospitais (a saúde), roubam a Educação (as Escolas e suas merendas), roubam a Segurança, roubam sonhos e essa a realidade mais cruel. Parabéns aos nosso bravos agricultores e agricultoras.